quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A ZHTV, a TV da Zero Hora


Os jornais impressos viram na internet não só a possibilidade de expandir seus conteúdos e alcançarem um publico maior, como também produzir vídeos agregando uma diferente mídia. Fundado em 1964, a  Zero Hora  é um dos maiores jornais de circulação diária do Brasil, é editado em Porto Alegre e mantido pelo Grupo RBS. A ZHTV, a TV da Zero Hora, começou sua produção no ano de 2007, mesmo ano do lançamento do site do jornal.

A publicação contava com profissionais multimídias desde seu início, de acordo com a editora multimídia da Zero Hora, Marlise Brenol. “Não havia uma produção sistemática e, normalmente, os vídeos acompanhavam reportagens especiais do impresso”, conta. Porém, mesmo que a produção de vídeos já existisse, o site zerohora.tvfoi lançado seis anos depois, em junho de 2013.

Marlise Brenol acredita que a linguagem de webtv está em construção, mas que o jornal gaúcho busca como inspiração as produções de documentários para cinema e televisão. Segundo ela, uma das fórmulas aprovadas pelo público é a de narrador oculto, onde o personagem é o protagonista daquela história.
Na Zero Hora, foi montada uma grade de programação semanal de vídeos, com seis programas curtos de dois a cinco minutos de duração, de segunda a sábado, com temas desde esportes até gastronomia, apresentados por jornalistas.

No site, os vídeos são divididos nas categorias Paulo Sant'Ana, Gastro, Programação ZHTV, Ao vivo trânsito, Verao 2013, Tecnologia, Vídeo minuto, Site ZH, Meu Filho, Geral, Polícia, Gastronomia, Casa&Cia, Bem-Estar, Mundo, Educação, Segundo Caderno, Economia, Política, Donna e zhEs. A classificação também pode ser vista a partir dos vídeos mais visualizados, votados, enviados e comentados. Também há a possibilidade do público preencher um formulário e enviar seu vídeo desde que esteja nos formatos permitidos - 3gp, .flv, .wmv, .mp4, .avi, .mov.

De todos os vídeos, na “Programação ZHTV” uma categoria muito nos interessou: os vídeos “Conversa no elevador” que são entrevistas de dois minutos num clima descontraído e claro, dentro de elevadores. Nós duas, que nunca tínhamos entrado na Zero Hora muito menos em sua TV para procurar informações, ficamos fãs desse quadro. Nisso, percebemos que apesar de não ter muita visibilidade ou divulgação, os jornais podem estar no rumo certo ao investir nas TVs on-line.


Abaixo, um vídeo do "Conversa no elevador", onde Tulio Milman entrevista o escritor e poeta Luiz de Miranda, dono da mais extensa obra poética do mundo e que foi indicado ao Nobel de Literatura em 2013. 


Referências Bibliográficas:
 
Portal Imprensa: http://portalimprensa.com.br/noticias/brasil/61591/jornais+seguem+tendencia+internacional+e+apostam+em+tvs+online+em+seus+sites

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O direito de falar por si mesma #2

Femen e a islamofobia


Em março desse ano, Amina Tyler, uma jovem tunisiana de 19 anos, criou a página 'Femen Tunísia' no Facebook, onde postou duas fotos em que usava o próprio corpo como plataforma de protesto. Em uma das fotos ostentava os seguintes dizeres sobre o dorso nu:  “Meu corpo me pertence, não é uma fonte de honra de ninguém”, em árabe, e na outra, “Foda-se a moral”, em inglês.
A imagem teve imensa repercussão em seu país, em que, segundo Censo de 2004, 98% da população é muçulmana. Um clérigo muçulmano repudiou a ação da moça, falando que ela merecia chibatadas para não dar exemplo às demais. O Femen, movimento internacional ao qual a jovem tinha se filiado, famoso por seus protestos com belíssimas mulheres de seios de fora e coroas de flores nas cabeças, e por isso mesmo, uma fonte certa de boas vendagens para capas de jornais e ampla penetração na mídia, vendeu para toda a mídia internacional o seguinte fato "Mulher é condenada à morte por fazer topless em protesto". 

Entretanto, não existe pena de morte na Tunísia e a "condenação" não veio do governo da Tunísia. É a opinião de um líder religioso, que não tem poder nenhum de mandar açoitar ou apedrejar alguém. A Tunísia é, aliás, um dos mais seculares e liberais países entre os arábes. Neste país, desde os anos 1960, a ex-colônia francesa mantém uma legislação avançada com relação aos direitos das mulheres. A poligamia foi banida, o divórcio é igualitário e o aborto é permitido. As mulheres ocupam cerca de dois terços das vagas nas universidades e apenas 3% das jovens entre 15 e 19 anos são casadas, divorciadas ou viúvas (na década de 1960, esse índice chegava a 50%).
Enquanto o Femen anunciava que Amina estava presa, sem direito a se expressar ou sair de casa, Bouchra Bel Haj Hmida, sua advogada, uma famosa ativista pelos direitos das mulheres, afirmava que ela estava bem e com a família. Enquanto o Femen alegava que a garota não tinha liberdade de expressão, ela deu entrevistas no famoso talk show tunisiano “Laa Ba’s” (Sem Preocupações) e em outros veículos como “Jadal Tunisia” (Debate Tunisia).
Para protestar contra a "condenação" de Amina o Femen promoveu um "Topless Jihad Day", em que várias manifestantes mostraram os seios pela liberdade das mulheres muçulmanas. As Femen chamaram a data de "nova primavera árabe" e escreveram que o evento era um grito contra "o ódio letal dos islâmicos, bestas desumanas para os quais matar uma mulher é mais natural que reconhecer o direito dela de fazer o que quiser com o corpo dela". Protestos foram realizados em vários locais do mundo, inclusive no Brasil, e dentro de uma mesquita na Suécia.

Isso gerou um outro movimento, o Muçulmanas contra o Femen, que, além de postar fotos de mulheres islâmicas com cartazes com dizeres como "A nudez não me liberta e eu não preciso ser salva", escreveu na sua página no FB: "Entendemos que é difícil para muitas de vocês 'feministas' coloniais brancas entenderem que muçulmanas e mulheres não-brancas podem pensar em sua própria autonomia, e reagir também, e falar por si. Temos orgulho de sermos muçulmanas, e estamos cansadas das sua verborragia racista e colonialista, sempre disfarçada de 'Liberação Feminina'!"
Em um manifesto assinado pelo grupo e traduzido para o português pela revista virtual Pittacos, as mulheres acusam o Femen de ter tomado partido em uma luta que não é das ocidentais e não deveria ser feita usando a nudez. As muçulmanas também argumentam que as integrantes do Femen são preconceituosas em relação ao Islã.
A líder ucraniana do Femen, Inna Shevchenko, respondeu também na rede social que não acredita no protesto das muçulmanas. “Elas dizem que são contra nós, mas continuamos afirmando que estamos aqui por elas. Elas escrevem que não precisam de libertação, mas em seus olhos está escrito ‘Ajude-me’.”
A própria Amina, que estava sumida desde que foi ameaçada, apareceu num canal francês para dizer que não quer estar associada com as ações mais recentes do Femen, apesar de continuar apoiando o grupo, porque "elas são verdadeiras feministas". Porém, para Amina, "elas insultaram todos os muçulmanos em todo lugar e isso não é aceitável". O Femen declarou, de modo característico, que era claro que "Amina não estava falando livremente".  

 
Sobre o ocorrido a ativista Sorayah Misleh escreveu:

'Seria o feminismo anticolonial contemporâneo, o qual questiona movimentos de mulheres que se baseiam na contradição inventada Oriente-Ocidente para ditar regras de comportamentos às árabes e muçulmanas e, portanto, em ideias que mantêm o colonialismo e o imperialismo. Entre essas, as de que as ditas “ocidentais” seriam a civilização a ser levada àqueles povos atrasados. Mostra disso são feministas que veem na vestimenta a opressão, quando pode ser uma característica cultural. Caso específico do véu islâmico, que, em si, não significa submissão. Tanto é que mulheres na Turquia e na França, por exemplo, protestaram quando tentaram lhes impedir o direito de cobrir os cabelos. O problema não é o uso, mas a imposição. Contra essa, sim, deve-se lutar contra.'

Resistência feminina no Oriente Médio
Em junho de 2005, na primeira dissensão pública por mulheres desde a Revolução Iraniana, mais de 250 mulheres protestaram contra a descriminação, do lado de fora da Universidade de Teerã, gritando: "Nós somos mulheres, somos crianças desta terra, mas não temos nenhum direito".  Foi reportado que policiais bateram em algumas mulheres, e prenderam outras, e 200 outras mulheres não conseguiram  juntar-se  à manifestação. 
Desde 2006, além da petição dos direitos legais, as ativistas dos direitos das mulheres iranianas têm lutado para mudar a lei penal que permite a pena capital - por apedrejamento - pelo crime de adultério.  Sob o código penal iraniano, meninas de até nove anos de idade podem ser executadas por enforcamento ou apedrejamento pelos chamados "crimes de moralidade", como adultério.
Em março de 2007, 33 mulheres ativistas foram presas em Teerã, após protestarem do lado de fora de um tribunal revolucionário onde cinco ativistas estavam sendo julgados por participarem de uma manifestação sobre direitos humanos, em junho de 2006.  Esta manifestação era para pedir direitos iguais para as mulheres na lei penal do Irã, além do código de família, e práticas da "lei de sangue".  As cinco ativistas que foram presas novamente junto com as manifestantes do tribunal foram acusadas de agirem contra a segurança nacional, indo a um encontro ilegal.
Movimentos de mulheres iranianas foram particularmente ativos na ocasião da campanha eleitoral de 2009. Diversas organizações e militantes que reivindicavam a igualdade de direitos aproveitaram esse tempo político forte para formar uma aliança chamada União dos Movimentos de Mulheres para a Apresentação das Reivindicações nas Eleições. Pela primeira vez, 700 militantes e mais de 40 associações agiram juntas para levar a questão das mulheres aos debates eleitorais. Algumas, como Azam Taleghani e Shahla Sherkat, podiam estar associadas aos movimentos do feminismo islâmico iraniano; outras, como Mansoureh Shojai, se inscreviam numa perspectiva laica.

Isso só para mencionar casos de resistência das mulheres arábes apenas em Teerã, capital do Irã e cidade natal do objeto de estudo do nosso Projeto, a fotógrafa Shadi Ghadirian. Há centenas de exemplos como esses de resistência e luta das mulheres arábes, o que parece que o Femen desconhece, ou ignora, em prol de um discurso que prega a intolerância e a islamofobia.

Feminismo(s) arábe(s)
No Oriente Médio os movimentos feministas são tão variados quanto seus contextos sociais e políticos. As reivindicações e as correntes políticas, assim como as práticas políticas das militantes, são tão diversas, que seria inútil pensar numa uniformidade de engajamentos.

Já no início do século 20, mulheres se organizam para reivindicar direitos na Turquia, no Irã, no Egito, no Líbano, na Síria, na Palestina etc. Essas pioneiras se apoiam em ideias nacionalistas e modernistas da época, e seu objetivo é abrir o espaço público para as mulheres. A escolarização das meninas e o papel da mulher no progresso nacional são reivindicações partilhadas por inúmeros movimentos femininos.

 Desde 1906, em Teerã, no Irã, mulheres se manifestam na rua para reivindicar seus direitos enquanto cidadãs. No Egito, o primeiro jornal a reivindicar para si o título de feminista é publicado em 1925 (trata-se de A egípcia – Revista mensal de política, feminismo, sociologia-arte). Na Síria, Nazîra Zayn Al-dîn publica a obra intitulada A favor ou contra o véu. Esse primeiro tempo das mobilizações das mulheres no Oriente Médio vê nascer a primeira conferência das mulheres árabes (Cairo, dezembro de 1944), que resulta na formulação de reivindicações políticas dirigidas ao governo: restrições no que diz respeito à poligamia e à prática masculina do divórcio, idade legal do casamento aos 16 anos, educação mista, cuidados médicos para as populações desfavorecidas. Essa primeira onda de movimentos apoia-se em uma abordagem nacionalista do feminismo.

 A segunda grande etapa acontece entre 1945 e 1980. Estados autoritários (Irã, Egito, Iraque, Síria) conferem direitos às mulheres, e instaura-se um feminismo de Estado, que é assimilado à segunda onda de movimentos. Os governos concedem alguns direitos, sempre limitando as formas de reivindicação. Assim, Nasser, no Egito, concede o direito de voto às mulheres, mas dissolve todas as organizações femininas. Desde os anos 80, em alguns contextos emerge outro movimento político de mulheres: o feminismo islâmico. No Irã, na Jordânia e no Kuwait, algumas militantes se apoiam numa releitura do Corão para defender seus direitos, denunciando a leitura patriarcal que dele é feita e se mobilizando contra as discriminações políticas, sociais, econômicas e jurídicas entre os sexos.
            
Análise das Fotos - A experiência e a vivência íntima da mulher no mundo arábe
 Like Every day:





Retratando a sua própria experiência, Shadi Ghadirian nesse ensaio mostra os conflitos que a mulher moderna vive sob as leis do código Shariah. Além disso, as fotos foram produzidas após ter se casado e vivenciado um ambiente em que as mulheres já estão produzidas e definidas.
Colocando objetos e utensílios domésticos no rosto das mulheres, ela faz uma crítica a essa mulher que não pode e nem é reconhecida, seu rosto esta sempre tampado por algo. O anonimato se torna algo do cotidiano.
Os utensílios domésticos são introduzidos nessa cultura e essas mulheres foram reduzidas, ironicamente, a uma identidade de apenas donas de casa, serventes de um mundo moderno.
O próprio título da série nos introduz ao tema do cotidiano, dos materiais usuais e do que essas mulheres enfrentam todos os dias, em especial os estereótipos.

Be Colorful:



Nesta série, Ghadirian brinca com texturas e cores em justaposição com as modelos. Esses retratos compostos parecem retratar mulheres que não se exibem por completo, inseguras e distantes da sociedade. Trabalha também com a sensualidade da mulher, em que sua beleza e intimidade delicadamente estão escondidas.
Ao utilizar um vidro pintado que fica na frente da modelo, como forma de textura, podemos sentir que a presença da mulher não é por completo, existe um obstáculo que impede de conhecer, de interagir com essa mulher, mesmo que seu olhar seja chamativo.

Unfocused:





Fotografias fora de foco, nas quais rostos não são mostrados, sabe-se apenas que é uma mulher, com vestido preto, exibindo seus braços, pescoço e pés. Uma maneira abstrata de revelar uma mulher, mesmo não sabendo por completo sua identidade.   Mais uma vez Ghadirian trabalha com a ideia de não exibir por completo, dando a entender um ambiente de insegurança. Um lugar onde a mulher só consegue se mostrar se for no anonimato.   

Shadi Ghadirian retrata esse universo feminino de forma crítica e abstrata, para que o leitor de suas obras tenha diferentes motivos para interpretar, pois estamos falando de culturas diferentes, de um cotidiano que para muitos não condiz com a realidade. De maneira sensível, a fotógrafa consegue mostrar um pensamento crítico e exibir suas considerações em relação ao lugar da mulher no mundo árabe.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

"Quem morre não fala mais nada" #2

por Leonardo Ribeiro e Lucas Afonso Sepulveda



A chamada Irmandade Assassina, ou Círculo de Liberais, é uma organização rebelde que nasceu no Império Romano, estabelecendo uma luta armada contra os Templários, a ordem monástica militar que controlou imperadores e, hoje, tem grande influência na indústria americana. Para defender o livre arbítrio e impedir a opressão dos templários durante os séculos, os assassinos da Ordem devem agir de acordo com três máximas: 
1. Deixe sua lâmina longe da carne de um inocente;
2. Esconda-se e seja mais um na multidão;
3. Nunca comprometa a fraternidade. 
É nesse grupo rebelde que Enzio Auditore, um jovem de 17 anos da Florença do século XV, descobre suas ligações, depois de ver pai e irmãos serem mortos pelos templários. Ele quer, obviamente, a vingança.

Essa é a premissa de um dos protagonistas do jogo Assassin's Creed. O jogo era possivelmente um dos favoritos de Marcelo Pesseghini, tanto que o rebelde Enzio era usado como o avatar do garoto no Facebook.

O segundo dia de apuração

No dia 6 de agosto, os portais brasileiros de notícia já sabiam que a principal suspeita da Polícia Militar era de que Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, de 13 anos, teria matado os próprios pais, a avó e a tia-avó, e depois se suicidado. Tanto a Folha de S. Paulo quanto o Estadão buscaram exaustivamente por detalhes que pudessem servir como aliados a essa informação. O primeiro veículo publicou quatro notas, e o segundo, seis.

No entanto, uma desses detalhes acabou sendo o carro-chefe de acessos do dia.

Às 10h48, a Folha soltou sua segunda notícia do dia e provavelmente uma das primeiras que tentariam justificar as suspeitas e, de certo modo, apelar para a solução do crime. A foto do personagem assassino na rede social da criança foi validada pelo portal e virou suite do caso [“Filho de PMs mortos usava imagem de personagem assassino em rede social”]. O detalhe levantado pelo site não chegou a ser comentado pela investigação da PM e só foi discutida oficialmente no laudo psicológico do garoto. Mesmo não afirmando que o jogo influenciou no comportamento do menino, o discurso da Folha reforçou precocemente uma interpretação de que Assassin’s Creed seria importante para entender o que aconteceu na casa dos Pesseghini.

A foto de perfil de Marcelo também foi retratada pelo Estadão, no final do dia, mas com outro tratamento nada parecido com o concorrente. Ao invés de servir como uma justificativa ao comportamento violento, o jogo se tornou uma informação complementar, de uma frase, na nota sobre os depoimentos de um vizinho e de um amigo de Marcelo para os militares. De acordo com a PM, o colega contou que nunca tinha jogado “joguinhos de tiro” com menino morto [“Era um menino normal, que gostava da família’, diz vizinho”]

O Estadão não analisou o perfil do Facebook de Marcelo antes da Folha, mas conseguiu uma quantidade maior de informações e conteúdo relevante ao longo do dia. O portal trouxe, por exemplo, o relato sobre as armas de brinquedo encontradas no quarto de Marcelo, pelo delegado que conduz a investigação: “Ele teve capacidade de montar um escudo de papelão, parecido com o do pai (que usava colete à prova de bala na Rota), e também tinha um tipo de coldre, que montou com fitas de papelão, para colocar arma”.

No saldo final do segundo dia de apuração, outras diferenças nas coberturas dos dois portais incitam uma discussão sobre qual seleção e importância a imprensa dá a certas informações. Apenas o Estadão abriu um espaço para questionar algumas conclusões da polícia a respeito do caso: como o menino teria conseguido matar os familiares sem despertar a reação dos pais e o porquê de não terem encontrado resquícios de pólvora na mão do garoto, entre outras lacunas, foram evidenciados pela publicação, dando a entender de que o caso ainda estava longe de ser concluído. Por outro lado, em nenhum momento a Folha de S. Paulo tentou mostrar a complexidade do caso, através de outras perspectivas, fora da suspeita principal da policia. Sua última noticia sobre o inquérito foi publicada às 17h04, sobre o depoimento de um dos amigos de Marcelo à PM, em que sugere que Pesseghini queria realmente matar os pais. Parece haver uma pressa da Folha em atingir determinadas conclusões que precisam ser dadas, na verdade, pela investigação.

A responsabilidade do jornal se compromete quando os valores notícia são majoritariamente influenciados pelo possível impacto que um acontecimento pode alcançar sobre o público. Toda a construção do “garoto que jogava Assassin’s Creed e pode ter matado a família a sangue frio” gera acesso e pode ser bastante rentável para os veículos. No entanto, essa construção também cria estigmas que não são necessariamente condizentes com uma veracidade. O próprio laudo médico de Marcelo Pesseghini mostra que a principal justificativa para o comportamento violento do garoto seria um estado de saúde mental comprometido pelo ambiente familiar em que vivia. Ao mesmo tempo que o videogame não serviu como prova ou motivação do assassinato. Ao mesmo tempo, não cabia à imprensa buscar provas e motivos para solucionar um crime.


Jackass #2

Neste relatório, vamos expor nossos comentários e análises sobre dois filmes produzidos pelo Jackass: O primeiro, Jackass: The Movie, e o último lançado, Jackass 3.5.




Os filmes e a série de tv não são nada mais do que os próprios criadores explicam: alguns caras fazendo coisas loucas e estúpidas. O primeiro filme foi produzido em 2002, e contava com menos recursos em relação ao que foi produzido recentemente. A alteração da qualidade de imagens pode estar associada ao fato de que o último filme foi uma produção em 3D, o que exige a utilização de equipamentos e softwares de edição mais sofisticados. Por esse motivo, é possível notar que a quantidade de cenas caseiras nesse último trabalho é menor em relação as outras produções. 
Quando comparamos os filmes, outro ponto que podemos notar é que no Jackass 3.5 há o acréscimo de comentários e pequenas histórias que são contadas antes das ações, o que contextualiza ou até mesmo explica o que está por vir. Isso não ocorria no Jackass: The Movie, que foi um produto basicamente construído a partir de uma compilação de vídeos, que eram editados e formavam um longa sem ordem cronológica e lógica. Além disso, o primeiro filme tem várias cenas gravadas nas casas dos atores - o que pode ter gerado, talvez, a indução de jovens a tentarem reproduzir as brincadeiras, o que foi principal problema que o programa teve que enfrentar.
No entanto, é válido ressaltar que alguns traços se mantem nos filmes. As aberturas são sempre inusitadas e constituídas por todos os membros do Jackass. Elas são produções ricas, dotadas de grandes efeitos, que por sua vez são aplicados em uma ação específica, que mostra de forma clara o objetivo do filme e da série em questão.

Aberturas de Jackass: The movie e Jackass 3.5

Para nós, é difícil entender as razões para os atores realizarem os desafios propostos. Com o sucesso, o incentivo com certeza foi maior, mas a iniciativa é um pouco incompreensível. O humor explorado por Jackass é o ridículo, levado a todos os extremos. Por isso, acreditamos que é difícil encontrar alguém que goste mais ou menos das cenas - geralmente, existem pessoas que adoram ou odeiam. Percebemos isso ao ler fóruns e conversarmos com amigos e conhecidos que acompanham - ou não - , a série, mas isso será aprofundando na próxima etapa do projeto.

A representação das travestis em jornais mineiros - Relatório II

Grupo: Eduarda Rodrigues, José Henrique Pires, Isabela Meireles, Natália Alves e Thaiane Bueno


No dia 11 de outubro todo o grupo se encontrou com Rafaela Vasconcelos, do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para uma conversa sobre o trabalho desenvolvido por eles. Foi um momento muito produtivo porque pudemos aprender como a questão trans, seja trans homem ou trans mulher, ainda é repleta de receios e preconceitos aqui em Belo Horizonte. O Núcleo está realizando agora, através de um questionário aplicado à população trans de BH, um levantamento sobre as condições de vida para tentar traçar um perfil.
Foi no tema do questionário que acabamos discutindo como a mídia mineira lida com as travestis em seu noticiário. Rafaela relatou que o grande interesse dos veículos de comunicação é por dados e números, algo que a pesquisa do Nuh deve produzir. O que acontece, muitas vezes, é que os jornalistas acabam usando tais dados sem nenhum cuidado de análise e interpretação, reforçando velhos padrões e estereótipos.
No trecho abaixo ela fala mais sobre o trabalho do Nuh, o posicionamento da mídia e também sobre o Manual de Redação LGBT lançado para os jornalistas, tendo em vista evitar certos erros de tratamento para com as travestis que se mantém.

O encontro abriu nossa olhar para a importância de se dar voz para as travestis e também de se dar um retorno quando elas estão envolvidas em qualquer tipo de estudo.

VOZES

Período
Abril-Maio-Junho 2013
Abril-Maio-Junho 2013
Veículo
O Tempo
Hoje em Dia
Temática da matéria
Direitos Humanos (2), Crimes (5), Celebridades (3)
Direitos Humanos (5), Crimes (1), Celebridades (1)
Vozes (Fontes da matérias e Autores das frases reproduzidas)
Curador (1), Travesti (3), Policial (4), Taxista (1), Celebridade (2), Amigo da travesti (1), Assessoria (1), ntegrante do movimento LGBT (3)
Integrante do movimento LGBT (2), Político (4), Polícia (3), Acusado (1), Advogado (1)

Dentre a maioria das reportagens coletada poucas são aquelas que optaram ter como fonte uma travesti. Na maior parte dos casos, observa-se a participação de membros de instituições ou associações ligadas ao movimento. E um ponto interessante a ser destacado é a presença contínua de fontes governamentais. São ministros, senadores ou outros cargos políticos sempre estão presentes nas matérias.


O Manual de Comunicação LGBT
Lançado em janeiro de 2010 por iniciativa da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), o Manual de Comunicação LGBT é um material feito de forma colaborativa por jornalistas, militantes e ativistas da causa LGBT. O objetivo do Manual é servir de orientação para estudantes, professores e profissionais de comunicação  e combater o uso de termos ou estruturas de linguagem homofóbicas e desrespeitosas aos LGBTs, contribuindo para a construção de uma cobertura que respeite os direitos humanos.
O manual esclarece questões como a diferença entre gênero, sexo biológico e sexualidade; porque se deve usar o termo homossexualidade ao invés de homossexualismo  além de indicar os termos corretos para identificar diversas possibilidades de identidade de gênero.
Um dos erros recorrentes nas matérias analisadas na pesquisa foi o uso incorreto de artigos quando se faz referencia a travestis. O manual esclarece: “Utiliza-se o artigo definido feminino “A” para falar da Travesti (aquela que possui seios, corpo, vestimentas, cabelos e formas femininas). É incorreto usar o artigo masculino, por exemplo, “O” travesti Maria, pois está se referindo a uma pessoa do gênero feminino”.  
É preciso também respeitar a identidade de gênero dos indivíduos. Voltando ao exemplo, se a travesti Maria é registrada com João, é preciso que a matéria respeite a forma como a travesti se identifica e publicar Maria. O material alerta ainda que a orientação sexual de um entrevistado só pode ser divulgada com o seu consentimento e se for de fato relevante para a pauta.
Algumas orientações para os jornalistas de como cada religião encara a homossexualidade, datas importantes da luta LGBT, o significado dos símbolos como as cores do arco-íris e toda a legislação vigente sobre o tema também está incluída no manual, que encerra com uma bibliografia de apoio para os profissionais.

Links das notícias analisadas

Hoje em Dia

ABRIL:
Vozes: ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário.
Integrante da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais(ABGLT), Keila Simpson

MAIO
Vozes: Polícia Militar (PM)
Cinco travestis “ relato das vítimas” (discurso indireto)
Graciano - o acusado
Vozes:  Secretário estadual Fernando Grella Vieira
Comando-Geral da PM
Associação da Parada do Orgulho GLBT (Apoglbt)
Vozes:  oAdvogado Dimitri Sales, do Instituto Latino-Americano de Direitos Humanos
Coronel Reynaldo Simões Rossi, do Comando de Policiamento do Centro
Um dos oficiais
Vozes:  Governador Geraldo Alckmin (PSDB)

JUNHO:
Vozes: Blogueira Fabíola Reipert

Vozes: Ministra da SDH, Maria do Rosário
Vice-presidenta do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT, Janaína Nogueira
Presidente do Conselho Nacional LGBT, Gustavo Bernardes

O Tempo

ABRIL
Vozes:  Henrique Moreira de Castro, curador da exposição

MAIO
Vozes: Travesti que morava com a vítima
Outras duas travestis não identificadas
Major e subcomandante do 33º Batalhão da Polícia Militar, Emerson Gomes
Vozes: Taxista que acionou o Samu para socorrer a vítima
Polícia Militar
Vozes: relato genérico das travestis vítimas (que são identificadas pelo nome de batismo)
Vozes: Cabo Vaneza Cristina Pereira
Polícia Militar
Uma das travestis vítimas

JUNHO:
Vozes: Letícia Spiller, atriz
Vozes: Polícia Militar
Amigo da vítima não identificado
Vozes: Fabíola Reipert, jornalista
Vozes: Assessoria do ator Rômulo Arantes Neto
Vozes: Presidente do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos), Anyky Lima
Coordenadora de Políticas de Diversidade Sexual de Minas, Walkíria La Roche
Coordenador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marco Aurélio Máximo