quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Programação radiofônica no trânsito #3

O terceiro relatório sobre a programação radiofônica no trânsito tem a pretensão de mostrar a visão da própria rádio, completando a nossa análise feita anteriormente. Abaixo está a entrevista com o chefe de reportagem, Itamar Mayrink, responsável pela coordenação das informações de trânsito da CBN.

Itamar Mayrink

As informações do trânsito são apresentadas em qual horário?
As informações do trânsito são divulgadas durante toda a programação. Mas como se trata de uma emissora em Rede, priorizamos o serviço de trânsito nos blocos locais nos horários de pico. No período da manhã vai das 6h às 9h30. Das 7h às 8h os blocos locais são destinados as informações diretas da Unidade aérea, com informações mais precisas sobre pontos de maior congestionamentos e retenções ou pontos alternativos de trânsito bom para os motoristas. A Unidade aérea volta no horário de pico da tarde, entre 18h e 19h, nos quatro blocos locais. Durante o programa de 9h30 ao meio-dia, também divulgamosm informações do trânsito.

  Quanto tempo da programação ao todo é dedicado à ela?
Não há um tempo pre-determinado. Damos prioridade para a divulgação das informações do trânsito nos horários de pico, no período da manhã (das 6h às 9h30) e na tarde/noite (das 17h às 19h). Entre 18h e 19h, as informações são da Unidade aérea durante sobrevoo da capital e parte da região metropolitana, principalmente Contagem, Betim, Nova Lima, Santa Luzia, Vespasiano e Lagoa Santa, na extensão da MG-10.

  Muitos ouvintes relatam, por diferentes meios, a sua experiência no trânsito. Como é feita a seleção das informações que serão repassadas pela CBN? Seguem algum critério?
Todas são avaliadas. O critério segue principalmente o problema ou a confusão que representa para aquele ponto ou região da cidade.

  Alem dos ouvintes e da BHTrans, a captação das informações tambem vem de outro lugar?
Além dos ouvintes e da BHTrans, buscamos informações das empresas de trânsito de Contagem e de Betim, das polícias rodoviárias, que atuam em áreas de ligação com o perímetro urbano e ainda de taxistas.
 

  Quando é que algum acontecimento do trânsito deixa de ser repassado pelo boletim?
Todo acontecimento de trânsito, a princípio é notícia. Quando não é repassado pelo boletim é uma notícia não divulgada, com prejuízo para os ouvintes e usuários.

  A unidade aérea é um dos diferenciais da CBN. Ela é usada em qual situação?
A unidade aérea sobrevoa a capital e parte da região metropolitana pela manhã e no final da tarde, dois períodos de maior movimentação de veículos, principalmente em direção ao centro da capital e no retorno para os bairros.

  Há alguma localidade que seja mais recorrente no boletim?
Além do centro da capital, o Anel rodoviário e as principais vias de acesso à área central são os pontos que exigem maior observação.

  Percebe-se que nas informações do trânsito há uma linguagem e postura adequadas e presentes na transmissão de qualquer notícia da Rádio. Essa preocupação realmente existe? Por que adotam essa característica?
Sim. As informações seguem um padrão da emissora que busca a objetividade e a clareza nas informações para o público.

  As informações sobre o transito são voltado para qual público?
As informações são para o público em geral. Atingem pessoas que se prepraram para sair de casa e enfrentar o trânsito, mas atingem principalmente o motorista em deslocamento.

Os programas da CBN que se apresentam nos horário de pico são voltados para as pessoas que estão no trânsito? Existe alguma programação especial para este publico?
Não a programação da CBN é jornalística e os programas em geral comportam as informações de trânsito.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

"Quem morre não fala mais nada" #3

por Leonardo Ribeiro e Lucas Afonso Sepulveda



Foram três homenagens feitas na porta da casa da família Pesseghini, na rua Dom Sebastião, no bairro Vila Brasilândia, em São Paulo. Um mês após a morte da família, flores foram deixadas por amigos, familiares, conhecidos e, principalmente, por estranhos que acreditavam que Marcelo Pesseghini não era autor dos crimes. O mesmo aconteceu no Dia das Crianças e no Dia dos Finados.

A residência dos Pesseghini foi, por alguns meses, como uma Meca para os que conheceram a família pelo noticiário nacional. Tanto mídia, quanto público, parecia se equilibrar no limbo dos fatos e especulação. O garoto matou os pais. O garoto não matou os pais. O crime foi, na verdade, uma queima de arquivo. Quem matou a família Pesseghini?

Era a nova novela da imprensa brasileira.

***

Dos três primeiros dias de apuração do caso Pesseghini, talvez o último torne mais evidente as diferentes abordagens adotadas pelos portais online da Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. Enquanto o primeiro conseguiu arrecadar informações dispersas para produzir cerca de dez notas em menos de 24 horas, o segundo só publicou três.

Dois acontecimentos foram essenciais nas investigações da morte da família de PMs no dia 7 de agosto. O primeiro foi a divulgação do vídeo que mostra Marcelo Pesseghini saindo do suposto carro da família e indo para a escola, no mesmo dia em que teria cometido o crime [Folha: “Vídeo mostra garoto suspeito de matar os pais saindo do carro”]. 

Já o segundo acontecimento foi a declaração feita pelo comandante Wagner Dimas para a Rádio Bandeirantes, sobre denuncias feitas por Andrea Regina Pesseghini de militares envolvidos com roubo de caixas eletrônicos [Folha: “Comandante de batalhão diz que PM morta com a família denunciou colegas”; Estadão: “Mãe de menino denunciou PMs, diz comandante”].

Esses dois marcos, no entanto, não sustentaram a grande quantidade de notícias produzidas pela Folha no terceiro dia de apuração. A grande preocupação do veículo, neste dia, foi com a busca por relatos da vida pessoal da família de militares mortos. Pela Folha de São Paulo, descobrimos que Marcelo Pesseghini frequentava a Rota com o pai e tinha confeccionado um cinto semelhante ao utilizado por policiais; que um dos vizinhos da família achava que “o Marcelinho era um amor”; que parentes do garoto nunca ouviram reclamações dos pais; que a diretoria da escola acreditava que o estudante era dócil, e também descobrimos sobre a doença que poderia matá-lo aos 18 anos.

Já o Estadão foi criterioso com as informações que publicava. Primeiro, subiu uma entrevista com uma psicopedagoga da PUC de São Paulo para contextualizar o estado de patologia mental que sofrem as crianças que cometem crimes, além de comentar sobre o que é ou não relevante para a investigação sobre o estado psicológico do filho de militares. Já a segunda nota publicada foi sobre o enterro da família. Por final, o Estado de São Paulo comentou a declaração dada pelo comandante sobre as denúncias feitas por Andreia Pesseghini, além de outros detalhes levantados pelo inquérito policial.

A Folha divulgou os acontecimentos antes do Estadão e, como nos outros dias da cobertura, ela priorizou as postagens das informações apuradas, à medida em que tinha acesso a elas, tentando criar uma narrativa que permitisse ao leitor a proximidade com o acontecimento. O Estado de S. Paulo, no entanto, optou por publicar um número menor de notícias que acumulavam um número condensado de informações da investigação, demonstrando um interesse em divulgar os desdobramentos do caso com maior articulação entre os acontecimentos. 

Um dos recursos que mais nos surpreendeu foi o uso da entrevista do Estadão com uma psicopedagoga para discutir se crianças podem cometer crimes. Esta se provou como uma tentativa interessante de ampliar a discussão do caso, evitando promover especulações e, ao mesmo tempo, se diferenciando da abordagem que o veículo concorrente fazia ao se preocupar com a publicação rápida e a invasão de detalhes particulares da família morta para conseguir discussão e acessos.



Jackass #3

Optamos por realizar uma pesquisa de público para procurar entender melhor os motivos pelos quais os espectadores assistem à série e aos filmes do Jackass. Alguns resultados eram esperados, como o modo que as pessoas conheceram a série (em 67% dos casos por indicação dos amigos, e 33% pela televisão), no entanto, outros surpreenderam, como o fato de que 100% das pessoas que responderam ao questionário não conhecem o motivo do termino da série.

Ao assistirmos os filmes, nos questionamos sobre o perfil do público que assiste ao Jackass. Portanto, buscamos coletar dados mais específicos, referentes à idade, ao gosto pela série e a opinião dessas pessoas em relação à influência desses programa, e obtivemos o seguinte resultado:



A faixa etária do telespectadores varia, mas maioria dos entrevistados (39%) tem entre 21 e 23 anos de idade, enquanto 33% têm entre 18 e 21 anos.

Em relação ao fato de o público gostar ou não da série, 50% dos entrevistados diz gostar do Jackass, sendo que 28% respondeu negativamente e 22% se disseram indiferentes. Ainda tentando traçar estes perfis, questionamos os entrevistados sobre o motivo que os levam a ver a serie, e as respostas foram divergentes. Alguns alegam que vêm a serie por achá-la engraçadas, outros dizem que não assistem mais, e por fim têm aqueles que viram por indicação de amigos, mas que não gostaram do programa.

Percebemos que grande parte das pessoas apreciavam a série quando mais jovens, e hoje a consideram idiota e até mesmo “burra”. O sucesso de alguns anos atrás parece ter influenciado várias pessoas, e foi comum respostas de quem assistiu algumas vezes mas nunca gostou. No entanto, há ainda um universo de indivíduos que dizem assistir por ser engraçado, mas é possível notar pela resultado final da pesquisa que série não é portadora de um publico fiel, pois 89% das pessoas relataram que não acompanharam o Jackass na MTV. Isso é um dado que nos leva a deduzir que devido ao fato de a serie ser composta por pequenos disquetes, que individualmente compõem um “sentido”, há uma grande maioria que assistia ao programa de forma esporádica.

Nas últimas postagens, contamos que a série começou a passar na MTV norte-americana em 2000, e foi oficialmente cancelada em 2012. 44% das pessoas que responderam ao questionário conheceram a série de 4 a 6 anos atrás, ou seja, quando ela estava no auge de audiência. Esses dados relacionam-se também com as informações passadas sobre os filmes Jackass. A maioria dos questionados viu o primeiro filme lançado, e o número cai de acordo com os lançamentos posteriores. Percebemos uma diminuição do interesse do público atrelada ao cancelamento da série.



É válido ressaltar que não há conhecimento por parte desse público sobre o fim da serie, porém, quando questionados sobre a influencia que essa pode exercer, a resposta quase unanime foi a afirmação de que é muito ruim. “Ruim. Quando eu estava no ensino fundamental os meninos ficavam fazendo coisas idiotas, como correr em direção à parede e se estabacar, e diziam que era Jackass”. Lembrando que o fim da série foi calcado nesse argumento de que as diversas tentativas de alerta de segurança que o programa fazia para o público não eram suficientes para evitar que seus fãs tentassem realizar ações, estilo Jackass, no dia a dia.

Por fim, há controversas no quesito humor da série.

A partir das respostas abaixo, percebemos, também, que perguntas que avaliam questões positivas de Jackass, como a criatividade e a diversão proporcionadas pela mesma, têm respostas divididas; já as questões que tratam a série como perigosa e idiota têm avaliações mais parecidas.

Relatório Final - O mercado audiovisual e nossas conclusões


Ideia inicial e mudança de percurso


Na disciplina  de projetos desse semestre, nos propusemos a conhecer o trabalho realizado por uma produtora audiovisual.

Focamos em abordar os mecanismos de funcionamento da produtora escolhida: por exemplo, saber o que é necessário para que ela funcione, como e quais as motivações que permitiu sua criação, quais profissionais trabalham lá, além de tentar conhecer mais de perto a produção de um dos trabalhos que foi realizado por eles, etc.
Durante o andamento da disciplina recebemos algumas sugestões do professor orientador e dos colegas de turma, e acrescentamos aos objetivos conhecer um pouco mais sobre o mercado em que a produtora está inserida.
Relato da experiência
Como já dissemos na postagem anterior, consideramos a visita bastante produtiva e surpreendente. Lá, tivemos uma conversa muito bacana com uma das idealizadoras da produtora, o que nos deixou satisfeitos.
Sabemos que não podemos tomar apenas o relato de uma produtora para ter uma base do mercado de produção audiovisual, mesmo assim entendemos que foi um primeiro passo importante para que pudéssemos conhecer a área.  

Seguem trechos da conversa que tivemos com Mariana
Nossas conclusões sobre o mercado audiovisual

Pudemos perceber que é um mercado com grande potencial de expansão, mas que ainda não é tão explorado em BH. As demandas estão aumentando, mas ainda é considerada pequena, se comparada a grandes mercados como os do Rio e São Paulo.
Em consequência  disso podemos observar  um  grande numero  de produtoras de pequeno e médio porte  na cidade, que atendem  a  demandas  mais pontuais, e  muitas  vezes  trabalham e parceria com outras produtoras,  para realizar  alguns  projetos  e  dar conta de demanda  maiores.

Por ser um mercado em constante expansão, vemos que que há grande esperança para o surgimento de novas produtoras, entretanto ficou claro pra nós que é necessário que haja um empenho muito forte da equipe que pretende abrir uma produtora.

No início de nossa conversa Mariana nos contou que o projeto de abrir uma produtora começou na faculdade e fortaleceu-se durante a realização do trabalho de conclusão de curso. Nesse período, os três fundadores da Olada não conheciam ao certo as ações necessárias para o início do projeto, mas estavam dispostos a ganhar notoriedade no mercado. Uma das primeiras ações que o trio, responsável pela gestão da Olada, decidiu fazer foi abrir uma conta conjunta onde pudessem guardar dinheiro para a ampliação projeto e para o investimento na produtora. Observando o trabalho realizado pela produtora, como o investimento em materiais de produção como câmeras, equipamentos de filmagem, computadores para edição, entre outros, ficou claro que a verba necessária para o início do projeto deve ser bem utilizada e que o gasto deve ser planejado corretamente para que não haja erros que possam dificultar o desempenho da empresa.

A Olada conseguiu captar notoriedade no mercado e, de certa forma, ganhou a atenção da demanda que busca realizar parcerias e projetos com a produtora. Este aspecto conquistado pela Olada mostrou ao nosso grupo que o maior desafio da produtora é se manter no mercado e que, mesmo sendo uma empresa de porte pequeno, os projetos podem se multiplicar e gerar uma maior exposição de trabalhos para o cenário da industria audiovisual não apenas de Belo Horizonte como em todo o Brasil.

Sendo assim, a principal lição que foi mostrada durante a realização deste trabalho, foi que o mercado audiovisual depende muito de contatos e indicações além de uma boa gestão das verbas da empresa. Isso, porque é muito complicado crescer rapidamente nesse meio pois ele já possui grandes produtoras que dominam a maioria dos grandes projetos e, dessa forma, os projetos que “sobram” para produtoras como a Olada aparecem sem uma frequência regular. Ou seja, existem meses em que pequenas produtoras tem diversos trabalhos porém talvez no outro mês nada apareça. Porém concluímos que com talento, uma verba inicial, uma boa gestão dessa verba e uma inserção no mercado para surgirem indicações, é possível sim estruturar uma produtora audiovisual que consiga se estabelecer no mercado.

Quadrinhos Independentes em Belo Horizonte - Relatório final

Na terceira e última parte de nosso trabalho, continuamos buscando por entrevistas com os nomes mais relevantes da cena independente de BH. Nesse meio tempo, nos deparamos um impecílio: Belo Horizonte cedia o maior festival de quadrinhos da América Latina, o FIQ, e todos os nossos possíveis intrevistados estavam profundamente envolvidos em preparativos para o evento. Dessa forma, conseguimos entrevistar apenas Ricardo Tokumoto, responsável pelo site RYOTiras.

Aproveitamos a realização do FIQ para também estar em contato com uma diversidade enorme de autores, quadrinistas e entusiastas. Grandes nomes da cena independente nacional estiveram presentes no evento, assim como figuras carimbadas, como o cartunista Laerte, homenagedo dessa edição do Festival. Não conseguimos, no entanto, gravar nenhuma entrevista no local, devido a falta de um equipamento de captação de som adequado ao ambiente ruidoso.

Resultado final:

Como haviamos proposto desde o início, todas as entrevistas realizadas pelo grupo foram registradas. Ao longo das postagens, liberamos pequenos trechos selecionados das falas de cada um e agora, com o fim do projeto, disponibilizamos a edição completa de cada uma delas:

Márcio dos Santos Rodrigues


Daniel Werneck
 
Ricardo Tokumoto


Como foi projetos?

Durante o presente semestre nos propusemos a entender e delinear a cena de quadrinhos independentes em Belo Horizonte. Tínhamos, como ponto de partida, uma imagem de Belo Horizonte como um polo diferenciado na produção de quadrinhos independentes, imagem essa que poderia ser verídica ou não: estavamos dispostas a construir ou desconstruir essa percepção.

Fica agora o relato individual de cada integrante do grupo da experiência do projeto:

“Quadrinhos Independentes em Beagá” não foi apenas um projeto BII. De certa forma, me ajudou a traçar o meu percurso profissional daqui em diante, ainda mais em um semestre em que eu já não tinha mais certeza se Comunicação Social era realmente o que eu queria. Conseguir reunir três áreas de interesse - vídeo, entrevistas e quadrinhos - em uma única proposta se tornou praticamente uma segunda chance aos quarenta e cinco do segundo tempo. Ainda assim, nem tudo correu exatamente do jeito que gostaríamos. Fazer bons vídeos dá trabalho, exige tempo e bons equipamentos. B II foi a primeira parte de um projeto que pode, e se tudo der certo, vai se tornar algo ainda maior. O assunto ainda é carente de pesquisa e documentação, mas tem visto sua importância crescer cada vez mais, não apenas por influência do FIQ, por exemplo. E ao contrário de ambientes em que os artistas já estão instalados em patamares quase sobre-humanos, as pessoas estavam mais do que dispostas a ajudar. A cena pode até conter certas disputas internas, mas em geral é formada por pessoas que querem fazer aquilo dar certo e estão trabalhando para isso. Isso se torna claro para quem é de fora. - Luísa Teixeira

Encarei a proposta de Projetos BII como um desafio pessoal: a produção audiovisual nunca foi um grande atrativo para mim dentro da área de comunicação e está longe de ser o meu forte. Me surpreendi com a afinidade que adquiri ao longo do trabalho e descobri que gosto bastante da área de edição, tanto de áudio quanto de vídeo. Realizar entrevistas, que é um aspecto tão importante do jornalismo, também não era uma facilidade minha, muitas vezes por timidez. Apesar de não termos realizados quantas entrevistas gostaríamos, as poucas que fizemos - talvez pelos entrevistados terem sido muito colaborativos e receptivos -, me soltaram mais e descobri nas entrevistas um trabalho que gostei muito. Mesmo fazendo contatos, não foi fácil realizarmos o proposto devido a proximidade de um grande festival - que foi o FIQ, uma experiência que também foi muito boa - e o grande tempo tomado por edição e seleção dos materiais produzidos. Poder pesquisar mais e conhecer tanto o público que produz quanto o que consume quadrinhos foi uma experiência muito interessante pois nos deparamos com muitas pessoas dispostas a falar e ajudar o projeto. Ainda que o resultado não tenha sido o esperado - na nossa cabeça, faríamos mais dezenas de entrevistas e teriamos tempo suficiente para editá-las, tornando-as em um bom conteúdo audiovisual -, fiquei muito satisfeita com o resultado e aprendi bem mais do que esperava com o trabalho. Não possuir um equipamento adequado também foi um desafio, mas acredito que nos saímos bem com o que pudemos utilizar. Pretendo dar continuidade na produção audiovisual sobre o tema, seja tornando-o um projeto pessoal ou até mesmo um trabalho de conclusão de curso. - Nina Rocha

Quando começamos o projeto, eu era a única que não conhecia nada sobre o tema. No início fiquei insegura quando ao meu envolvimento, já que parecia que as meninas tomavam todas as atitudes por já terem conhecimento prévio e contatos com quadrinistas e profissionais da área. Cheguei a ficar insatisfeita com a escolha, quando vi que não conseguia contribuir da forma como achei que deveria. Com o andamento do trabalho, comecei a me envolver mais com o universo dos quadrinhos. Comcei a ler e acompanhar os blogs de quadrinistas independentes, e principalmente, me interessar mais sobre o tema. Desconstrui alguns esteriótipos que, mesmo inconcientemente, eu mantinha sobre o universo dos quadrinhos e garanto que daqui para frente acompanharei com mais afinco cena independente de BH. Não posso dizer que o trabalho me fez uma especialista no assunto ou me mostrou um caminho profissional a seguir, mas foi algo prazeroso e interessante de fazer. O fato de produzir um conteúdo audiovisual também foi muito interessante, já que já se aproxima mais da área que me interessa profissionalmente. Confesso que foi um pouco frustrante a falta de um equipamento ou de maiores conhecimentos na área de edição, mas isso também me apontou uma defasagem em minha formação que pretendo contornar o mais rápido possível. No fim, faço um balanço extremamente positivo do projeto. – Luiza Lambert

Tarifa Zero é mais... #3


A partir das análises apontadas pelos colegas de turma e pelo professor nos últimos encontros presenciais, focamos nossa abordagem dessa postagem no Grupo de Trabalho (GT) de mobilidade urbana, criado na Assembleia Popular Horizontal, junto com outros sete GTs. São eles: educação, saúde, moradia, meio ambiente, desmilitarização da PM, direitos humanos e reforma polícia.

Dentre eles, apenas um permanece articulado após quatro meses de sua criação. O GT de Mobilidade Urbana. As reuniões acontecem às terças-feiras, às 19h, na faculdade de arquitetura e urbanismo da UFMG. Nelas, atualmente costumam aparecer de 20 a 30 pessoas, organizadas em partidos políticos e coletivos, ou não. Essa articulação que começou polêmica a respeito de qual temática tocar, hoje tem uma campanha clara: Tarifa Zero.

A definição descrita no blog do grupo por Tarifa Zero é “uma proposta de mudança na forma de financiamento do transporte coletivo, que extingue a cobrança do usuário no momento do uso. Hoje o sistema de ônibus é bancado por quem passa na catraca, mas ele beneficia toda a população. A premissa do projeto é que o transporte é um direito social e como tal deve ser financiado por toda a sociedade, assim como a Educação, Saúde, Segurança e Iluminação Pública”.  Esse é o projeto que já foi entregue na câmara municipal de Belo Horizonte como um projeto de lei de iniciativa popular. Esse projeto foi acompanhado de uma grande campanha de popularização do projeto com cartazes, camisas e bótons por todos os lados: TARIFA ZERO É MAIS – mostrando como o projeto melhora a segurança, o comércio, a rapidez no trânsito etc.

A campanha tem se desdobrado. O lançamento foi no dia 21 de setembro, em frente à prefeitura de BH: uma ocupação na Avenida Afonso Pena com aula pública sobre o projeto. No dia seguinte, 22 de setembro, foi um evento cultural na cidade com a temática #ocupação Tarifa Zero. Por falar em evento cultural, no dia 03 de outubro, na reestreia do Duelo de MC’s em BH, o tema do duelo foi Tarifa Zero e os participantes fizeram rimas obrigatoriamente com o termo “catraca”, “pulão”, “direito” e “acesso”.  O último evento que participaram foi a virada cultural da UFMG, com uma banquinha de venda de camisas e bótons do Tarifa Zero.




...é mais articulação

Para Juliana Rocha, estudante de Veterinária da UFMG e membra do GT de mobilidade urbana desde sua criação, o fato dele ser o único que ainda se articula não é porque esse é “o escolhido”. Para ela, a articulação do GT está relacionada ao interesse das pessoas pelo tema – tendo em vista o transporte caótico de BH. Outro elemento apontado pela estudante é o fato de o GT ter deliberado por uma campanha concreta que é a campanha Tarifa Zero. Diz Juliana que ter algo concreto para se mobilizar e conquistar é um fator determinante para que as pessoas continuem em movimento.
Não são incomuns reclamações sobre as contradições do trânsito caótico, os transportes públicos lotados e o preço alto das passagens. Não à toa, a mobilização popular que levou milhões às ruas em Junho deste ano teve seu início em um ato de insatisfação com o transporte público: ato pelo Passe-Livre, em São Paulo.  Essa justa causa encontrou apoio na população de todo o país, que insatisfeitas com a condição dos transportes e com a “contribuição” feita pela desmesurada repressão sofrida pelos manifestantes em SP, pegou seus cartazes e saíram também às ruas – a princípio com atos de solidariedade aos manifestantes de SP, depois com suas próprias bandeiras.

Conclusão

Ao fazer o esforço de pensar o porquê do sucesso desse GT, e para isso considerando o contato que tivemos com  participantes ativos em suas reuniões e ações, além do acompanhamento que fizemos, entendemos que é um encadeamento de aspectos.
Um site bem resolvido e articulado com as atividades propostas pelo grupo, a existência de um objetivo claro e único, além de muito bem informado, uma identidade visual marcante e o momento histórico pelo qual passamos são alguns dos aspectos que levantamos. Também foi muito importante a ligação em termos de proposta com o Movimento Passe Livre, o qual ao se tornar muito conhecido com todo o desdobrar das jornadas de junho fez com que a pauta transporte urbano entrasse na agenda pública, assim como permitiu que as pessoas tivessem acesso às ideias que perpassam a reivindicação da tarifa zero no transporte público.


Por fim, as diferentes formas de engajamento e vínculos com o movimento, possibilitados por aquilo que o grupo temático se propôs a fazer, acarretaram com que esse GT tenha sido o único que conseguiu dar sequência de modo eficaz e continuado aos seus trabalhos. Como exemplo disso temos que qualquer um poderia imprimir em sua casa uma folha de assinatura, a qual servia para coletar o nome de pessoas que queriam viabilizar por meio de assinaturas um projeto de lei de iniciativa popular que foi elaborado pelo grupo, e ir atrás de interessados.

4x Bechdel - Relatório Final

Para fechar nosso projeto com chave de ouro, decidimos fazer uma coisa diferente: cada uma de nós escolheu um filme que gosta muito (dentro do gênero de comédia romântica) e trocamos entre nós os filmes para serem analisados.

Ana escolheu “De repente é amor”  
Marina escolheu "Imagine eu e você"
Melissa escolheu “Amizade colorida”
Nathália escolheu “Como se fosse a primeira vez”

Depois sorteamos entre nós os filmes, e ordem que saiu foi: Nathália analisou o filme da Melissa, que por sua vez analisou o filme da Marina, que analisou o filme da Ana, que por fim analisou o filme da Nathália.
Queríamos, com isso, incluir nossos filmes queridos no trabalho, mas sem corrermos o risco de nos apegarmos emocionalmente a eles durante a análise.
Para dar um ar mais dinâmico, alegre e divertido para esse último post criamos um site no portal wix com as nossas análises, trailers dos filmes, uma explicação breve sobre nosso projeto e do teste de Bechdel.



Profissão Locutor #3 - Locução: a alma do rádio

por Amanda Almeida, Cristiane Duarte, Marlon Henrique e Victor Lambertucci


    Radialista/professor universitário/apresentador de tevê. Essa poderia ser a classificação de alguém da “slash generation”, mas é a de Elias Santos, de 42 anos.

    Slash, em inglês, significa “barra”, esse sinal gráfico usado para separar as múltiplas funções de uma mesma coisa ou pessoa. A “geração barra” é formada majoritariamente por jovens em seus 20 e poucos anos. Um exemplo é o “designer/DJ/músico/fotógrafo/produtor de festas”, bastante comum hoje em dia.

    Mas pelo que parece, os profissionais do rádio aprenderam o bom uso das “barras” antes até do pessoal da slash generation” nascer. Se o que guia os jovens é muitas vezes a possibilidade de seguir diversos interesses e ter mobilidade para seguir um estilo de vida alternativo, quem trabalha com rádio aponta a necessidade de incrementar a renda como um dos principais motivos para adicionar mais funções ao currículo.

    E nesse último relatório da disciplina, trazemos nossa conversa com mais uma profissional que acumula diversas outras barras além do rádio. E já avisamos: sua fala é tão envolvente que é difícil manter as aspas longe do texto.


Uma história de amor e rádio


    Se um nome é referência em locução em Belo Horizonte, esse é Beth Seixas. E quem o carrega é uma mulher de personalidade forte e que batalha pelo que quer. Ela afirma que não resolveu ser locutora, resolveram por ela. “Nunca imaginei que eu fosse trabalhar nessa área. Mas entrei e fiz um teste. Fiz, fui aprovada mais pelo timbre de voz do que pelo talento”, conta.

    Para ela, no início de sua carreira as maiores dificuldades do rádio eram técnicas, relacionadas às precariedades de equipamento e má qualidade de sinal. Mas no caso dela, a maior barreira foi ser mulher. “Era um universo absolutamente masculino. Entrar nesse universo não foi fácil. Recebi muita porta na cara, muito não. ‘Ah, nem, mulher de jeito nenhum’. Um dos argumentos que eu e muitas outras colegas locutoras ouvimos era o de que mulher não tinha credibilidade. Hoje isso já acabou. Basta ver dentro das salas de aula de cursos de Jornalismo e nas redações, quantas mulheres e quantos homens”, comenta, imitando as vozes de quem lhe dizia não. E mesmo com o argumento da suposta falta de credibilidade, Beth foi premiada por três anos consecutivos como melhor locutora, ainda no início de sua caminhada.

    Ela começou como apresentadora de televisão, o rádio só entrou em sua vida seis anos depois. E foi aí que ela descobriu sua paixão pelo veículo. “Rádio é fascinante. Nele você dá o corpo que você quer para a voz. E você faz companhia para as pessoas, de uma forma que a televisão e a internet não fazem. Se você falar que a internet é o melhor meio de comunicação, vai ser mentira. Nesse nosso país, há muitos lugares aos quais a internet não chega. Nesses cantos aí, no radinho a gente é companheiro de todo mundo”, aponta.


    Analisando o passado e o cenário atual do rádio, Beth avalia que além de a tecnologia estar totalmente diferente, a linguagem está muito mais moderna, mais dinâmica, menos dura, tanto na locução de rádio quanto de televisão, está tudo mais divertido, bem menos careta.  


Formando Locutores

Alunos do curso de locução - Escola Beth Seixas
    “Eu penso que ouvindo rádio as pessoas tiveram esse desejo de querer ser locutor ‘igual esse daí’. Os locutores eram ídolos, tinham seus fãs. Eu já ganhei faixa de rainha do rádio na área de locução! Aí começou a procura. As pessoas me perguntavam ‘Beth, onde é que tem um curso?’, e não existia. Até que um dia eu fiz uma gravação de um comercial, imitando a Iris Lettieri, que é locutora de aeroporto. Do outro lado do aquário tinha um grupo de estudantes de Comunicação assistindo. Quando terminei a gravação, eles aplaudiram e eu saí da cabine dizendo ‘Fiquem tranquilos, vou abrir um curso e vou ensinar vocês’. Foi o que bastou.

    “Nessa brincadeira, esse estúdio passou a dar meu telefone, falando que a Beth estava abrindo um curso. Minha vida virou uma loucura. Ligavam no meu celular procurando o curso e eu explicava que não havia curso nenhum. Um ano e meio depois eu falei ‘Vou abrir um curso!’. E abri. Éramos eu e uma amiga, minha sócia. Eu falava que eu era o artístico e ela o administrativo. Eu fazia palhaçada e ela tomava conta do dinheiro”.

    Foi assim que surgiu a “Beth Seixas Escola para Locutores”, outra forma de obtenção de renda na carreira da comunicadora, já que não dá para ficar só com o salário de locutora. Ela sempre teve que manter outras funções a mais, e estar no rádio ajuda na divulgação.

   Quando ela começou na televisão, na extinta TV Itacolomi, ela era apresentadora do telejornal, corretora de imóveis e digitadora. “Quando eu aparecia na tevê, o pessoal pensava ‘Nossa, ele deve estar milionária!’, mas eu tinha era que ter os três empregos. E nunca deixei de ter mais de uma função. Era uma tevê, uma rádio AM e outra FM, além dos freelas de comerciais, cerimoniais”, conta com orgulho.

Suor e paixão
Laboratório de Rádio - Curso de Comunicação Social - UFMG
    Para quem está começando a carreira, Beth diz que vale a pena investir em locução. “Ainda mais porque tem uma escola fabulosa para ensinar”, brinca. Ela acrescenta que se o seu desejo estiver ali, vale a pena investir em qualquer que seja a carreira.

    E no rádio, precisa mesmo ter a paixão. “É paixão e escravidão. Porque você trabalha sábado, domingo, feriado, Natal, Ano Novo. Eu tenho três filhos, e quando eles eram pequenos, eu trabalhava na TV Globo e também na rádio Alvorada. Chegava a época de Natal e eu largava serviço na rádio às onze da noite. Eu apresentava o MGTV e meu turno começava uma e meia da manhã. Então meus filhos ficam no telefone ‘Mãe, você vai chegar é junto com o Papai Noel?’. Hoje dois dos meus filhos trabalham em rádio e eles dizem ‘Nossa, mãe, não vou poder ir ao churrasco, estou de plantão nesse fim de semana’, e foi isso que passei a minha vida inteira”.

    E apesar de toda a luta e dificuldades com horários, salários e jornadas triplas, ela ainda deixa um recado motivador à nossa turma de futuros jornalistas e possíveis locutores: “Não percam a esperança, não percam a paixão, não percam o tesão. Vai ter hora de desânimo, de desencanto, mas isso com qualquer outra profissão vocês vão ter. Não desistam não. É chorando e rindo, mas é muito mais rindo do que chorando!”

Ouça mais sobre "Profissão Locutor" no programa de rádio feito especialmente para o projeto:



A representação das travestis em jornais mineiros - Relatório Final

Eduarda Rodrigues, José Henrique Pires, Isabela Meireles, Natália Alves e Thaiane Bueno

Para tentar compreender um pouco das dinâmicas das coberturas jornalísticas e a representação das travestis na mídia, o grupo foi atrás de chaves de leitura que pudessem ajudar a entender os fenômenos observados nas coletas de notícia dos portais online do jornal O Tempo e do Hoje em Dia.

Uma das conversas esclarecedoras para o grupo foi com o professor Carlos Alberto Carvalho, que é professor adjunto do Departamento de Comunicação da UFMG e pesquisa a cobertura jornalística sobre HIV/Aids e homofobia.

Em conversa com o grupo, uma das primeiras questões levantadas pelo professor diz respeito às diversas possibilidades de manifestação da homofobia, que é um tipo de construção social muito forte que atinge indistintamente qualquer pessoa.

Outro ponto importante levantado pelo professor foi a hierarquização de classificação e preconceitos dos sujeitos que não estão inseridos na heteronormatividade. Nesse sentido, o que observa-se é que a sociedade como um todo, e inclusive a comunidade LGBT hierarquiza os sujeitos de acordo com diferentes “categorias”¹. Podemos observar os traços dessa hierarquização também na cobertura jornalística, que confere às travestis alguma visibilidade – mais até que as outras “categorias”- mas ainda assim é uma visibilidade negativa. Isso é perceptível na maioria das matérias analisadas, que os temas relacionam as travestis a prostituição, drogas e violência,  reforçando dessa forma os estereótipos desses sujeitos.

As travestis representam um desafio para os padrões e conceitos da cultura heteronormativa que foi socialmente construída. Desafia a sexualidade uma vez que as travestis não são mulheres, nem pretendem ser, mas também não se identificam com homossexuais masculinos. Seus corpos, carregam elementos do feminino e do masculino (peitos grandes e pintos grandes, muitas vezes). Nesse sentido, elas se encontram socialmente em um lugar das ambiguidades e das contradições. A cobertura jornalística então é também contraditória e não deixa de evidenciar estas ambiguidades. 

Segundo Carlos Alberto, é preciso não cair no equívoco de achar que o jornalismo reproduz os preconceitos sociais. É necessário entender que a mídia não é um espelho da realidade, mas faz parte dessa realidade, a compõe e por ela é composta. Dessa forma, os julgamentos e acusações sobre os profissionais de jornalismo devem ser questionados.  Esses profissionais, como parte na negociação de sentidos, não estão fora da sociedade e são parte dela, também contraditórios e também reforçam preconceitos.

É válido ressaltar que estamos inseridos em um contexto sócio histórico e também cultural de um padrão heteronormativo que acaba configurando-se em um ambiente favorável às diversas manifestações de preconceitos. Existem barreiras difíceis de serem superadas, construções sociais vindas de vários discursos como o religioso, o psicológico, o da medicina e o do direito que se fazem presente no nosso contexto atual. Sendo assim, uma tentativa de superação destes preconceitos não passam apenas por reformulações nas coberturas jornalísticas e nas práticas dos profissionais da área. Não é só uma conscientização de jornalistas. São necessárias mudanças socioculturais e socioeducativas que coloquem em cheque os termos e as crenças que reproduzem hierarquizações e preconceitos.

Outra fonte de informação para o grupo foi a literatura. Entendemos que, assim como o jornalismo, os livros (principalmente os factuais) apresentam retratos das travestis e são formas carregadas de sentido e julgamentos.

Um bom exemplo é o livro “Travesti”, do antropólogo americano Don Kulick. A obra mostra a mudança do autor para Salvador (BA) nos anos 1990 com o intuito de acompanhar o dia a dia das travestis da região mais marginalizada da capital baiana. O livro aparenta ser uma tentativa de narrar a realidade impactante de vidas marcadas pela prostituição - apontada quase que como a única forma de sobrevivência para as travestis , pela pobreza e pela segregação social.  

Não cabe aqui entrar no mérito das histórias pessoais de cada travesti acompanhada, mas talvez analisar mudanças em relação aos dias atuais.

Pouca coisa parece estar efetivamente diferente, mas o assunto travesti é mais midiatizado agora do que antes. As travestis de Salvador mostradas no livro e as travestis de Belo Horizonte retratadas nos jornais são ainda, em grande parte, marginalizadas e precisam recorrer a prostituição como forma de vida. Ser travesti é ainda um agravante, uma característica que incrimina, que diminui o sujeito frente à sociedade.

1- a palavra categoria foi usada como uma forma de tornar o texto mais claro. É preciso problematizar essa categorização dos sujeitos que os colocam rótulos e denominações que não dão conta da complexidade destes sujeitos.
 
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Logo abaixo, os gráficos ilustram os resultados da última coleta das matérias dos jornais O Tempo e Hoje em dia, referente aos meses de julho, agosto e setembro de 2013:




Diálogos entre tradição e modernidade - A mulher no Irã hoje

O oscar vencedor do melhor filme de 2013 Oscar foi anunciado direto da Casa Branca pela primeira dama dos Estaos Unidos, Michelle Obama, que usava um longo vestido prateado sem alças. Os jornais iranianos, entretanto, mostravam Michelle com um modelito diferente, com mangas, gola alta e sem decote. As fotos foram alteradas pela Fars, a agência de notícias semi-oficiais do país.

Pelas regras do Irã, as mulheres que aparecem na televisão no país devem usar um hijab que encubra seus cabelos, braços e pernas. As regras de censura para estrangeiros na TV variam.No caso de filmes, a censura chega a editar alguns trechos ou deletar cenas para que as atrizes não apareçam fora de suas normas. Além de ter modificado a roupa da primeira-dama, a Fars também reprovou a decisão da academia de conceder o prêmio de Melhor Filme a Argo, cuja história se passa no Irã. A agência julgou o filme como anti-iraniano.


É justamente essa censura e tentativa de esconder a realidade do mundo ocidental por parte do governo e extremistas religiosos que Shadi Ghadirian ironiza na série de fotos 'West by East' (Ocidente pelo Oriente), de 2004. A série é composta por fotografias simples que podem ter sido retiradas de qualquer revista feminina de qualquer país do mundo. Camadas de tintas preta sobre as fotografias escondem tudo aquilo que é proibido pelo governo iraniano, desde o cabelo à pernas de fora.




Embora não sejam tão bem inseridas no mercado de trabalho, cerca de 60% dos alunos que ingressam nas Universidades iranianas são mulheres.O Irã é o quarto maior país em número de blogueiros do mundo. Fizeram fama na rede diversas blogueiras e jornalistas iranianas. Desta forma, percebemos o quanto a mulher iraniana usa das novas tecnologias.

Ainda que o governo use de técnicas de censura tanto na mídia impressa, televisão e cinema quanto também na internet; controlar a o uso da rede é mais difícil. Essa maior liberdade da mulher na rede é expressa por Ghadirian nas fotos 'Ctrl+Alt+Del', uma sequência de teclas que pode tanto ser utilizada para entrar num sistema de computador, quanto para reiniciá-lo.

Com veste preta sobre um fundo preto, as fotos da série servem como Plano de Fundo do Desktop. Com cabelos, braços e pernas devidamente tampados, como recomenda a lei islâmica, a mulher livremente dança e brinca com os ícones do computador.









Deixamos para o final a série mais importante de Shadi Ghadirian. 'Qajar' foi seu projeto de conclusão de curso em fotografia na Escola de Belas Artes de Teerã. Como dissemos nos últimos posts, o Irã era uma grande potência no final do século XVIII. A fotografia e o cinema, invenções européias, também foram utilizadas pelo então governante, que registrava sua corte em belos estúdios e gravou em vídeo viagens suas à Paris.

Ghadirian nesta série em sépia, tom das fotografias da época do imperador, tirou as fotos nos estúdios originais de fins do século 1800 e início dos anos 1900. As modelos das fotografias são suas familiares e as roupas que elas vestem não se distinguem muito das que eram usadas um século antes. Detalhes, entretanto, fazem a diferença e marcam esses dois tempos que convivem juntos; a tradição, imposta pelos governantes e seus conselheiros religiosos; e a paulatina modernização do país, expressa em latas de refrigerante, livros, jornais, etc.