quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A representação das travestis em jornais mineiros - Relatório Final

Eduarda Rodrigues, José Henrique Pires, Isabela Meireles, Natália Alves e Thaiane Bueno

Para tentar compreender um pouco das dinâmicas das coberturas jornalísticas e a representação das travestis na mídia, o grupo foi atrás de chaves de leitura que pudessem ajudar a entender os fenômenos observados nas coletas de notícia dos portais online do jornal O Tempo e do Hoje em Dia.

Uma das conversas esclarecedoras para o grupo foi com o professor Carlos Alberto Carvalho, que é professor adjunto do Departamento de Comunicação da UFMG e pesquisa a cobertura jornalística sobre HIV/Aids e homofobia.

Em conversa com o grupo, uma das primeiras questões levantadas pelo professor diz respeito às diversas possibilidades de manifestação da homofobia, que é um tipo de construção social muito forte que atinge indistintamente qualquer pessoa.

Outro ponto importante levantado pelo professor foi a hierarquização de classificação e preconceitos dos sujeitos que não estão inseridos na heteronormatividade. Nesse sentido, o que observa-se é que a sociedade como um todo, e inclusive a comunidade LGBT hierarquiza os sujeitos de acordo com diferentes “categorias”¹. Podemos observar os traços dessa hierarquização também na cobertura jornalística, que confere às travestis alguma visibilidade – mais até que as outras “categorias”- mas ainda assim é uma visibilidade negativa. Isso é perceptível na maioria das matérias analisadas, que os temas relacionam as travestis a prostituição, drogas e violência,  reforçando dessa forma os estereótipos desses sujeitos.

As travestis representam um desafio para os padrões e conceitos da cultura heteronormativa que foi socialmente construída. Desafia a sexualidade uma vez que as travestis não são mulheres, nem pretendem ser, mas também não se identificam com homossexuais masculinos. Seus corpos, carregam elementos do feminino e do masculino (peitos grandes e pintos grandes, muitas vezes). Nesse sentido, elas se encontram socialmente em um lugar das ambiguidades e das contradições. A cobertura jornalística então é também contraditória e não deixa de evidenciar estas ambiguidades. 

Segundo Carlos Alberto, é preciso não cair no equívoco de achar que o jornalismo reproduz os preconceitos sociais. É necessário entender que a mídia não é um espelho da realidade, mas faz parte dessa realidade, a compõe e por ela é composta. Dessa forma, os julgamentos e acusações sobre os profissionais de jornalismo devem ser questionados.  Esses profissionais, como parte na negociação de sentidos, não estão fora da sociedade e são parte dela, também contraditórios e também reforçam preconceitos.

É válido ressaltar que estamos inseridos em um contexto sócio histórico e também cultural de um padrão heteronormativo que acaba configurando-se em um ambiente favorável às diversas manifestações de preconceitos. Existem barreiras difíceis de serem superadas, construções sociais vindas de vários discursos como o religioso, o psicológico, o da medicina e o do direito que se fazem presente no nosso contexto atual. Sendo assim, uma tentativa de superação destes preconceitos não passam apenas por reformulações nas coberturas jornalísticas e nas práticas dos profissionais da área. Não é só uma conscientização de jornalistas. São necessárias mudanças socioculturais e socioeducativas que coloquem em cheque os termos e as crenças que reproduzem hierarquizações e preconceitos.

Outra fonte de informação para o grupo foi a literatura. Entendemos que, assim como o jornalismo, os livros (principalmente os factuais) apresentam retratos das travestis e são formas carregadas de sentido e julgamentos.

Um bom exemplo é o livro “Travesti”, do antropólogo americano Don Kulick. A obra mostra a mudança do autor para Salvador (BA) nos anos 1990 com o intuito de acompanhar o dia a dia das travestis da região mais marginalizada da capital baiana. O livro aparenta ser uma tentativa de narrar a realidade impactante de vidas marcadas pela prostituição - apontada quase que como a única forma de sobrevivência para as travestis , pela pobreza e pela segregação social.  

Não cabe aqui entrar no mérito das histórias pessoais de cada travesti acompanhada, mas talvez analisar mudanças em relação aos dias atuais.

Pouca coisa parece estar efetivamente diferente, mas o assunto travesti é mais midiatizado agora do que antes. As travestis de Salvador mostradas no livro e as travestis de Belo Horizonte retratadas nos jornais são ainda, em grande parte, marginalizadas e precisam recorrer a prostituição como forma de vida. Ser travesti é ainda um agravante, uma característica que incrimina, que diminui o sujeito frente à sociedade.

1- a palavra categoria foi usada como uma forma de tornar o texto mais claro. É preciso problematizar essa categorização dos sujeitos que os colocam rótulos e denominações que não dão conta da complexidade destes sujeitos.
 
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Logo abaixo, os gráficos ilustram os resultados da última coleta das matérias dos jornais O Tempo e Hoje em dia, referente aos meses de julho, agosto e setembro de 2013:




4 comentários:

  1. Gostei muito da postagem de vocês! Achei o relatório de vocês ficou muito completo e trouxe elementos novos de análise, ao invés de apenas recuperar o trajeto. E também achei bem bacana o uso dos gráficos, deu uma boa dinamizada na leitura. Parabéns!

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  2. Acompanhei todas as postagens e gostei muito de todos. O trabalho está muito bem embasado e achei a forma como concluíram muito interessante. O gráfico dinamiza a postagem e facilita a visualização da comparação.
    Estão de parabéns pela escolha do assunto e de como foram eficientes na execução.

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  3. Meninos achei muito legal o tema de vocês, como também ter conhecido a apostila para jornalistas sobre o tema. Parabéns gente!!!

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  4. Muito bom os gráficos, apesar de eu me surpreender como gráfico a respeito do jornal hoje em dia a respeito da temática das matérias. Achei legal também entrevistar o Carlos, ele é bom na visão acadêmica sobre o tema. Parabenizo vocês pela escolha do tema; que se produza mais a partir desse início.

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