quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Diálogos entre tradição e modernidade - A mulher no Irã hoje

O oscar vencedor do melhor filme de 2013 Oscar foi anunciado direto da Casa Branca pela primeira dama dos Estaos Unidos, Michelle Obama, que usava um longo vestido prateado sem alças. Os jornais iranianos, entretanto, mostravam Michelle com um modelito diferente, com mangas, gola alta e sem decote. As fotos foram alteradas pela Fars, a agência de notícias semi-oficiais do país.

Pelas regras do Irã, as mulheres que aparecem na televisão no país devem usar um hijab que encubra seus cabelos, braços e pernas. As regras de censura para estrangeiros na TV variam.No caso de filmes, a censura chega a editar alguns trechos ou deletar cenas para que as atrizes não apareçam fora de suas normas. Além de ter modificado a roupa da primeira-dama, a Fars também reprovou a decisão da academia de conceder o prêmio de Melhor Filme a Argo, cuja história se passa no Irã. A agência julgou o filme como anti-iraniano.


É justamente essa censura e tentativa de esconder a realidade do mundo ocidental por parte do governo e extremistas religiosos que Shadi Ghadirian ironiza na série de fotos 'West by East' (Ocidente pelo Oriente), de 2004. A série é composta por fotografias simples que podem ter sido retiradas de qualquer revista feminina de qualquer país do mundo. Camadas de tintas preta sobre as fotografias escondem tudo aquilo que é proibido pelo governo iraniano, desde o cabelo à pernas de fora.




Embora não sejam tão bem inseridas no mercado de trabalho, cerca de 60% dos alunos que ingressam nas Universidades iranianas são mulheres.O Irã é o quarto maior país em número de blogueiros do mundo. Fizeram fama na rede diversas blogueiras e jornalistas iranianas. Desta forma, percebemos o quanto a mulher iraniana usa das novas tecnologias.

Ainda que o governo use de técnicas de censura tanto na mídia impressa, televisão e cinema quanto também na internet; controlar a o uso da rede é mais difícil. Essa maior liberdade da mulher na rede é expressa por Ghadirian nas fotos 'Ctrl+Alt+Del', uma sequência de teclas que pode tanto ser utilizada para entrar num sistema de computador, quanto para reiniciá-lo.

Com veste preta sobre um fundo preto, as fotos da série servem como Plano de Fundo do Desktop. Com cabelos, braços e pernas devidamente tampados, como recomenda a lei islâmica, a mulher livremente dança e brinca com os ícones do computador.









Deixamos para o final a série mais importante de Shadi Ghadirian. 'Qajar' foi seu projeto de conclusão de curso em fotografia na Escola de Belas Artes de Teerã. Como dissemos nos últimos posts, o Irã era uma grande potência no final do século XVIII. A fotografia e o cinema, invenções européias, também foram utilizadas pelo então governante, que registrava sua corte em belos estúdios e gravou em vídeo viagens suas à Paris.

Ghadirian nesta série em sépia, tom das fotografias da época do imperador, tirou as fotos nos estúdios originais de fins do século 1800 e início dos anos 1900. As modelos das fotografias são suas familiares e as roupas que elas vestem não se distinguem muito das que eram usadas um século antes. Detalhes, entretanto, fazem a diferença e marcam esses dois tempos que convivem juntos; a tradição, imposta pelos governantes e seus conselheiros religiosos; e a paulatina modernização do país, expressa em latas de refrigerante, livros, jornais, etc.















8 comentários:

  1. O projeto de vocês foi muito interessante para conhecer uma cultura que não tinha muita familiaridade. Como já disse em outros posts, não conhecia Shadi Ghadirian e seu trabalho, mas gostei bastante da sua obra. Essa série de fotos do "Ctrl + Alt + Del"é maravilhosa!

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  2. Gostei bastante do projeto, que de fato trouxe conhecimentos novos. Achei interessante essa tensão entre censura e uso da internet. Talvez isso pudesse ter sido um pouco mais explorado. Fiquei curiosa em saber quais são as blogueiras mais acessadas e os temas que abordam principalmente. Realmente o trabalho de Shadi Ghadirian é interessantíssimo.

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  3. Gente, achei o projeto de vocês muito bonito! Eu não conhecia muito bem essa cultura e minha percepção de censura sobre as mulheres era muito leiga. Aprendi muito! Concordo com a Nina, a série "Ctrl + Alt + Del" é sensacional!

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  4. Olá pessoal,

    acompanhei todas as postagens do projeto de vocês e desde o início fiquei muito curiosa com o tema. Não conhecia sobre o trabalhado de Shadi Ghadirian e também não tinha muitas ideias sobre o cotidiano das mulheres no Irã. E o projeto conseguiu abordar esses assuntos de forma clara e significativa. Desde o princípio imaginei que a análise das fotos seria um grande desafio, ainda mais quando trata-se de uma realidade bem distante do que conhecemos. Entretanto, o grupo ultrapassou bem essas obstáculos e esse último post é resposta disso. A junção das imagens fortes e as contextualizações são bem interessantes para dar significado ao trabalho de Shadi Ghadirian. Parabéns pelo projeto.

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  5. Meninas, foi demais esse projeto de vocês. Adorei a abordagem histórica e cultural do Irã e a inserção das fotografias de Shadi Ghadirian nesse país tão complexo. Gostei da maneira com que vocês costuraram análise, imagens e contexto.
    Das séries apresentadas nessa postagem não sei qual foi a que achei mais interessante, todas são muito instigantes!

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  6. Gente, gostei muito do tema de vocês. Foi muito interessante esse olhar sobre a cultura iraniana, o posicionamento das mulheres e a influência da tradição e religião. Acho que vocês exploraram muito bem como as mulheres conciliam esses dois mundos e como, apesar de termos uma visão muito restrita acerca disso, muitas mulheres se contentam com o estilo de vida muçulmano e não se sentem cerceadas por ele, como foi demonstrado no último post de vocês. Gostei muito!

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  7. Meninas, o trabalho de vocês ficou ótimo! O cuidado em contextualizar uma cultura que não nos é tão familiar deu à análise das fotografias uma outra perspectiva. Ao conhecer um pouco mais daquilo que vivem essas mulheres é possível nos distanciarmos dos nossos próprios pré-conceitos e ver as fotografias da Shadi Ghadirian com outros olhos, algo que também pode ser relacionado com a série West by East. Parabéns!

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  8. Eu gostei muito do trabalho de vocês. Acredito que todas as culturas hoje traz elementos de inferioridade masculina. Mas isso não quer dizer que eu, enquanto ocidental, sou menos oprimida e tenho que libertas as mulheres iranianas, por exemplo. Esse feminismo que pretende salvar as mulheres, cai quando se defronta com as próprias mulheres de outros lugares. Acredito que existe sim uma opressão, mas cada pessoa é sujeitx de sua libertação.

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