quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Profissão Locutor #3 - Locução: a alma do rádio

por Amanda Almeida, Cristiane Duarte, Marlon Henrique e Victor Lambertucci


    Radialista/professor universitário/apresentador de tevê. Essa poderia ser a classificação de alguém da “slash generation”, mas é a de Elias Santos, de 42 anos.

    Slash, em inglês, significa “barra”, esse sinal gráfico usado para separar as múltiplas funções de uma mesma coisa ou pessoa. A “geração barra” é formada majoritariamente por jovens em seus 20 e poucos anos. Um exemplo é o “designer/DJ/músico/fotógrafo/produtor de festas”, bastante comum hoje em dia.

    Mas pelo que parece, os profissionais do rádio aprenderam o bom uso das “barras” antes até do pessoal da slash generation” nascer. Se o que guia os jovens é muitas vezes a possibilidade de seguir diversos interesses e ter mobilidade para seguir um estilo de vida alternativo, quem trabalha com rádio aponta a necessidade de incrementar a renda como um dos principais motivos para adicionar mais funções ao currículo.

    E nesse último relatório da disciplina, trazemos nossa conversa com mais uma profissional que acumula diversas outras barras além do rádio. E já avisamos: sua fala é tão envolvente que é difícil manter as aspas longe do texto.


Uma história de amor e rádio


    Se um nome é referência em locução em Belo Horizonte, esse é Beth Seixas. E quem o carrega é uma mulher de personalidade forte e que batalha pelo que quer. Ela afirma que não resolveu ser locutora, resolveram por ela. “Nunca imaginei que eu fosse trabalhar nessa área. Mas entrei e fiz um teste. Fiz, fui aprovada mais pelo timbre de voz do que pelo talento”, conta.

    Para ela, no início de sua carreira as maiores dificuldades do rádio eram técnicas, relacionadas às precariedades de equipamento e má qualidade de sinal. Mas no caso dela, a maior barreira foi ser mulher. “Era um universo absolutamente masculino. Entrar nesse universo não foi fácil. Recebi muita porta na cara, muito não. ‘Ah, nem, mulher de jeito nenhum’. Um dos argumentos que eu e muitas outras colegas locutoras ouvimos era o de que mulher não tinha credibilidade. Hoje isso já acabou. Basta ver dentro das salas de aula de cursos de Jornalismo e nas redações, quantas mulheres e quantos homens”, comenta, imitando as vozes de quem lhe dizia não. E mesmo com o argumento da suposta falta de credibilidade, Beth foi premiada por três anos consecutivos como melhor locutora, ainda no início de sua caminhada.

    Ela começou como apresentadora de televisão, o rádio só entrou em sua vida seis anos depois. E foi aí que ela descobriu sua paixão pelo veículo. “Rádio é fascinante. Nele você dá o corpo que você quer para a voz. E você faz companhia para as pessoas, de uma forma que a televisão e a internet não fazem. Se você falar que a internet é o melhor meio de comunicação, vai ser mentira. Nesse nosso país, há muitos lugares aos quais a internet não chega. Nesses cantos aí, no radinho a gente é companheiro de todo mundo”, aponta.


    Analisando o passado e o cenário atual do rádio, Beth avalia que além de a tecnologia estar totalmente diferente, a linguagem está muito mais moderna, mais dinâmica, menos dura, tanto na locução de rádio quanto de televisão, está tudo mais divertido, bem menos careta.  


Formando Locutores

Alunos do curso de locução - Escola Beth Seixas
    “Eu penso que ouvindo rádio as pessoas tiveram esse desejo de querer ser locutor ‘igual esse daí’. Os locutores eram ídolos, tinham seus fãs. Eu já ganhei faixa de rainha do rádio na área de locução! Aí começou a procura. As pessoas me perguntavam ‘Beth, onde é que tem um curso?’, e não existia. Até que um dia eu fiz uma gravação de um comercial, imitando a Iris Lettieri, que é locutora de aeroporto. Do outro lado do aquário tinha um grupo de estudantes de Comunicação assistindo. Quando terminei a gravação, eles aplaudiram e eu saí da cabine dizendo ‘Fiquem tranquilos, vou abrir um curso e vou ensinar vocês’. Foi o que bastou.

    “Nessa brincadeira, esse estúdio passou a dar meu telefone, falando que a Beth estava abrindo um curso. Minha vida virou uma loucura. Ligavam no meu celular procurando o curso e eu explicava que não havia curso nenhum. Um ano e meio depois eu falei ‘Vou abrir um curso!’. E abri. Éramos eu e uma amiga, minha sócia. Eu falava que eu era o artístico e ela o administrativo. Eu fazia palhaçada e ela tomava conta do dinheiro”.

    Foi assim que surgiu a “Beth Seixas Escola para Locutores”, outra forma de obtenção de renda na carreira da comunicadora, já que não dá para ficar só com o salário de locutora. Ela sempre teve que manter outras funções a mais, e estar no rádio ajuda na divulgação.

   Quando ela começou na televisão, na extinta TV Itacolomi, ela era apresentadora do telejornal, corretora de imóveis e digitadora. “Quando eu aparecia na tevê, o pessoal pensava ‘Nossa, ele deve estar milionária!’, mas eu tinha era que ter os três empregos. E nunca deixei de ter mais de uma função. Era uma tevê, uma rádio AM e outra FM, além dos freelas de comerciais, cerimoniais”, conta com orgulho.

Suor e paixão
Laboratório de Rádio - Curso de Comunicação Social - UFMG
    Para quem está começando a carreira, Beth diz que vale a pena investir em locução. “Ainda mais porque tem uma escola fabulosa para ensinar”, brinca. Ela acrescenta que se o seu desejo estiver ali, vale a pena investir em qualquer que seja a carreira.

    E no rádio, precisa mesmo ter a paixão. “É paixão e escravidão. Porque você trabalha sábado, domingo, feriado, Natal, Ano Novo. Eu tenho três filhos, e quando eles eram pequenos, eu trabalhava na TV Globo e também na rádio Alvorada. Chegava a época de Natal e eu largava serviço na rádio às onze da noite. Eu apresentava o MGTV e meu turno começava uma e meia da manhã. Então meus filhos ficam no telefone ‘Mãe, você vai chegar é junto com o Papai Noel?’. Hoje dois dos meus filhos trabalham em rádio e eles dizem ‘Nossa, mãe, não vou poder ir ao churrasco, estou de plantão nesse fim de semana’, e foi isso que passei a minha vida inteira”.

    E apesar de toda a luta e dificuldades com horários, salários e jornadas triplas, ela ainda deixa um recado motivador à nossa turma de futuros jornalistas e possíveis locutores: “Não percam a esperança, não percam a paixão, não percam o tesão. Vai ter hora de desânimo, de desencanto, mas isso com qualquer outra profissão vocês vão ter. Não desistam não. É chorando e rindo, mas é muito mais rindo do que chorando!”

Ouça mais sobre "Profissão Locutor" no programa de rádio feito especialmente para o projeto:



7 comentários:

  1. Nossa, muito bom terem feito um programa de rádio para essa última postagem. Ótima maneira de expor o que aprenderam.

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  2. Além de mostrar um pouquinho da fala de cada entrevista que fizeram. Parabéns!

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  3. Achei bem legal o "vídeo" - o programa! ficou bem a cara de vocês e foi um jeito legal de passar muita coisa sem ser em texto. E os efeitos sonoros escolhidos, as trilhas, foram bem pensadas, bem características do rádio mesmo! parabéns!

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  4. Foi bem interessante acompanhar o projeto de vocês porque como não tenho muito interesse na área radiofônica, nunca tive a curiosidade de saber muito do assunto. O vídeo final ficou muito bom, mas uma coisa que senti falta foi uma entrevista com o Gilberto, uma figura tão presente na nossa vida universitária e com ótimas histórias pra contar.

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  5. Olá pessoal,

    Acompanhei as postagens e pude observar o desenvolvimento do trabalho. As discussões envolvendo a profissão de locutor são várias, desde os salários baixos até os cursos relacionados com o aprendizado da função. E vocês apresentaram uma visão ampla sobre esses pontos. O programa de rádio foi um ótimo recurso utilizado para a finalização do trabalho. Demonstra o quanto o projeto foi enriquecedor para o conhecimento do grupo. Parabéns pelo projeto.

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  6. Ei gente! Que gracinha da Beth! Foi uma ótima escolha ter finalizado as postagens com a entrevista dela, que apesar de ter passado por preconceitos no início da carreira por ser mulher, acabou se tornando uma das pioneiras do campo. E além de tudo ainda é responsável por uma escola de locução e parece não ter perdido a magia que move o rádio.
    O programa que vocês fizeram também é um dos pontos altos da postagem! Parabéns!

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  7. Muito bom o trabalho de vocês , ao longo do percurso discutiram pontos importantes que hoje estão no meio dessa profissão e ainda fizeram um bom vídeo.

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