terça-feira, 27 de agosto de 2013

[Plano de Trabalho] A arte de Shadi Ghadirian e as possibilidades de um feminismo plural

Contextualização: A Revolução Iraniana

Em 1979 estourava no Irã uma revolução que transformaria o país - até então comandado pelo Xá Mohammad Reza Pahlevi - de uma monarquia autocrática pró-Ocidente, em uma república islâmica sob o comando do aiatolá Ruhollah Khomeini. O xá despertara a ira das mais diversas camadas da população, por motivos diversos. As camadas religiosas eram contrárias ao governo do xá por sua postura ocidentalizante e secular, fruto da influência dos parceiros Estados Unidos e Reino Unido. A proximidade com as grandes potências mundiais, a política econômica dispendiosa, a alta desigualdade social, o governo altamente militarizado e armado, a censura e repressão extrema desagradavam os esquerdistas. O governo do xá reprimia violentamente todos os opositores, tendo levado à morte milhares deles.

Para efeito de análise histórica, a Revolução Iraniana é dividida em duas fases: a primeira marcada por uma aliança entre grupos liberais, esquerdistas e religiosos; e a segunda, frequentemente chamada Revolução Islâmica, em que viu-se a chegada dos aiatolás ao poder. Nessa segunda fase, muitos dos costumes ocidentais (vestuário e música ocidental, uso de maquiagem, jogos, cinema etc.) foram proibidos pelo novo regime, que considerava que tais elementos corrompiam a juventude iraniana. Foram reintroduzidos os castigos corporais para quem violasse os preceitos da Sharia, a Lei Islâmica, e a pena de morte foi aplicada não só aos defensores do xá (sobretudo ministros e militares do anterior regime), como também em prostitutas, homossexuais, marxistas e membros de outras igrejas.

A Revolução Iraniana é explicada de maneira lúdica e (relativamente) simples (devido à complexidade da história) na animação Persépolis, de 2007, inspirada no romance gráfico autobiográfico homônimo de Marjane Satrapi. Sua trama começa pouco antes da Revolução Iraniana, quando Marjane, aos 10 anos, se vê obrigada a usar o véu islâmico numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita - apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa.


Ilustração de Marjane Sartrapi no livro Persépolis

Shadi Ghadirian


The Hidden World of Shadi Ghadirian from The Kitchen Sisters on Vimeo.

Conterrânea de Marjane Sartrapi, Shadi Ghadirian, a fotógrafa cuja obra será objeto de estudo desse Projetos BII, nasceu em 1974 na cidade de Teerã. Tinha cinco anos quando a revolução eclodiu. Em sua cidade natal cursou fotografia na Universidade Azad.

Depois de formada, Shadi iniciou carreira como fotógrafa profissional, e atualmente segue trabalhando no Museu de Fotografia de Teerã. Segundo a fotógrafa, 'meio que por acidente', o tema de suas primeiras séries foram as 'mulheres'. A inspiração para o trabalho de Ghadirian veio da dualidade e contradições que a fotógrafa via na vida cotidiana. Ghadirian brinca com as justaposições e contrastes entre a tradição e as modernidade trazidas pela globalização, em meio à uma cultura em que a tradição é extremamente valorizada. Seu trabalho está intimamente ligado com sua identidade como uma mulher muçulmana vivendo no Irã moderno. Sua arte, entretanto, ultrapassa o regionalismo e lida com problemas relevantes para mulheres de outras culturas.

Ghadirian tem seu trabalho exposto em várias coleções como no British Museum, Mumok, Centre Georges Pompidou, Los Angeles County Museum of Art, Smithsonian institution, Victoria e Albert Museum. Em seu site, www.shadighadirian.com, nove séries fotográficas podem ser conferidas.

Plano de Trabalho

Em cada post, pretendemos tratar de três séries que nos parecem afins nos temas ou em suas características formais. Faremos pequenos textos descritivos com comentários e análises acerca de cada série.

No 1° post, agruparemos as séries que retratam a guerra sob o olhar subjetivo e feminino da fotógrafa. Neste post, à exemplo desse plano de trabalho, faremos uma pequena contextualização sobre a situação política no Irã e a situação da mulher no Islã.

/Séries a serem tratadas no 1° post: White Squar; Nil,Nil e My Press Photo.


Foto da série 'Nil,Nil'

No 2° post, abordaremos as séries da fotógrafa que trabalham a experiência e a vivência íntima da mulher no mundo arábe, mostrando como o trabalho de Ghadirian é crítico e ao mesmo tempo sensível, falando de uma particularidade cultural de dentro. Nesse post pretendemos fazer uma breve contextualização sobre o etnocentrismo no feminismo (por exemplo os casos islamofóbicos por parte do Femen) e sobre o feminismo árabe.

/Séries a serem tratadas no 2° post: Like EveryDay, Unfocused e Be Colorful.


Foto da série 'Like EveryDay'

No 3° post, serão analisadas as séries que fazem referência às dualidades entre a tradição e modernidade, o ocidente e o oriente e como a mulher arábe se insere na sociedade em tempos de globalização. Concluindo o trabalho, pretendemos construir um texto a respeito dos desafios do reconhecimento do outro e da construção da pluralidade no movimento feminista, que atualmente recebe críticas até mesmo das feministas negras dentro da sociedade ocidental por só refletirem os desígnios da mulher branca.

/Séries a serem tratadas no 3° post: West by East, Crtl+Alt+Del e Qajar.


Foto da série 'Crtl+Alt+Del'

5 comentários:

  1. Olá,

    primeiramente, o assunto escolhido me chamou muita atenção devido a sua complexidade. Imagino que será um grande desafio conseguir 'desvendar' um pouco desse lado feminista ,dentro de um mundo tão fechado como é o islã. Cheguei a conferir algumas fotos, disponíveis no site da fotógrafa, que vocês indicaram. Todas muito interessantes. Estou muito curiosa com o desenvolvimento do projeto. Desejo um ótimo trabalho ao grupo!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi,

    Achei muito legal a pequena contextualização que vocês fizeram e fiquei muito curioso. Não conheço o trabalho dessa fotógrafa, mas pela descrição parece muito interessante. Falar sobre feminismo no oriente médio e sobre essa região tão complexa e possuidora de tantas particularidades deve ser uma tarefa bem difícil e para mim vocês já começaram muito bem.

    A postagem ficou muito bem escrita e a utilização da ilustração, do vídeo e das fotos para clarear um pouco o objeto de estudo de vocês deu uma dinâmica ótima. Com certeza vou acompanhar as próximas postagens. Bom trabalho!

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  4. Ei, meninas!

    Adorei a proposta de vocês! É bem diferente de tudo que eu já até agora. Não conheço praticamente nada do assunto, mas adorei as fotos da Shadi e tenho certeza que esse será um projeto que agregará bastante conhecimento a quem acompanhá-lo. Gostei bastante da contextualização histórica que vocês fizeram e, principalmente, a abordagem empregada pela dupla. Acredito que, em meio a todos os aspectos culturais que vocês irão levantar, talvez será possível dismistificar essa visão deturpada que temos da mulher muçulmana.

    Bom trabalho!

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  5. Oi meninas, achei muito interessante a proposta de vocês. Não conhecia o trabalho da Shadi e ele foi muito bem contextualizado por vocês. O trabalho da Marjane Strapi é muito legal e pode ser um ótimo fio condutor para o trabalho.

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