terça-feira, 27 de agosto de 2013

"Quem morre não fala mais nada" [Proposta]


A ética nos três primeiros dias de apuração do caso Pesseghini,
pela Folha Online e Estadão
por Leonardo Ribeiro e Lucas Afonso Sepulveda

"Quem morre não fala mais nada." Essa é parte da declaração do tio avó de Marcelo Pesseghini sobre a exaustiva busca da imprensa por desdobramentos na investigação do assassinato da família de Vila Brasilândia, em São Paulo. Também é com esse depoimento que a ombudsman da Folha Suzana Singer encerrou sua coluna do último domingo, 25 de Agosto, intitulado de "Respeito aos mortos".

Em seu texto, Suzana aponta para três falhas éticas na apuração jornalística de casos de violência. A primeira seria a mais comum nas reportagens diárias: a reprodução sem averiguação de informações cedidas pelos órgãos da polícia. Para a jornalista, o ato sequer pode ser considerado como uma verdadeira apuração.

A segunda, que também é recorrente, ainda mais no jornalismo online, é quando o veículo decide sustentar uma informação falsa, ou averiguada "pela metade", em uma notícia; informação essa que pode facilmente ser controversa e tomada como verdade por parte dos leitores e do público.

Exemplificando o caso de Marcelo, Suzana não necessariamente condena a imprensa por reportar a suspeita do garoto filho de Policiais Militares ter sido o autor dos assassinatos e ter, por fim, cometido suicídio. O que a colunista acusa, no entanto, como o terceiro problema, evidente no caso Pesseghini, é "a busca desenfreada por detalhes da vida familiar, na tentativa de explicar o que poderia ter levado um garoto aparentemente tranquilo a praticar tamanha violência."

Foi a discussão ética sobre a cobertura da mídia acima de casos de violência que nos motivou a propor, como tema de Projetos B2, o tratamento e apuração de dois grandes veículos online dos desdobramentos da chacina da família Pesseghini.

Proposta de trabalho

Nossa primeira escolha de recorte é selecionar para análise apenas o conteúdo produzido pelos portais virtuais da Folha de S.Paulo e d'O Estado de S.Paulo. São duas publicações tradicionais de grande representatividade na população brasileira e, por serem online, rendem mais notícias com maior imediaticidade que suas versões impressas.

Compreender apenas a cobertura dos três primeiros dias de investigação (05/08, 06/08 e 07/08) do caso Pesseghini é nosso segundo recorte. Nessa faixa de tempo, temos acontecimentos e desdobramentos que já nos parecem ser o bastante para a reflexão acerca da ética jornalística trabalhada pelos dois veículos online.

Através dessas seleções, acreditamos ser possível uma análise crítica aberta e inclusive, uma comparação editorial entre os dois portais. Com essa análise, queremos incitar entre nossos colegas uma discussão sobre qual seria o modo mais ético possível para apurar e tratar determinadas informações em uma cobertura de vítimas de violência.

Metodologia

Usaremos o conteúdo publicados, sobre a chacina, nos portais da Folha Online e Estadão entre os dias 5 à 7 de Agosto deste ano. Cada relatório será referente ao conteúdo selecionado de um dos três primeiros dias de investigação e apuração. No final de cada postagem, todas os links de notícias estarão disponíveis em ordem cronológica, organizadas através da ferramenta Storify

Pretendemos abrir a discussão ética para os professores do departamento de Comunicação Social da UFMG e convidaremos alguns deles para contribuir opinativamente neste projeto.

Cronograma

Optamos por narrar a análise através de uma ordem cronológica dos acontecimentos do caso Pesseghini. Sendo assim, a primeira postagem é referente à apresentação do caso e seu tratamento nas primeiras notícias que saíram na noite do dia 5 de Agosto. Seguindo essa lógica, a segunda postagem, portanto, é referente ao segundo dia, e a última postagem é uma conclusão do terceiro dia e da nossa análise.

6 comentários:

  1. Meninos, estou apaixonada com a proposta de vocês. Acho que vocês pegaram o recorte correto, uma vez que a cobertura da mídia foi um tanto quanto desleixada e acusativa nos primeiros dias após a chacina. Eram afirmações assustadoras sobre autoria e condições do crime. Entendo que o acontecido chocou realmente a população, mas será que teria sido tão chocante se um menino da favela cometesse os crimes, como a sociedade e a mídia reagiriam? Eu sei que não é a questão de vocês, porpem é uma coisa a se pensar.

    Abs

    ResponderExcluir
  2. Olá meninos,

    assim como a Duda, eu também gostei muito da ideia de vocês. Acho que será interessante olhar a partir dessa perspectiva da ética. Casos como esses sempre geram grandes repercussões e muitas vezes nós somos bombardeados por uma overdose de fatos e conclusões precipitadas, que pouco informam. É importante que, no nosso papel de estudante de comunicação, possamos nos posicionar criticamente com relação à isso. Uma sugestão minha é que vocês pesquisem alguns estudos que trataram da abordagem midiática de grandes casos como esse. Por exemplo, o que aconteceu na época do 'Ônibus 174' (que rendeu até um documentário do José Padilha) ou mais recentemente o caso da Elóa e da Isabella Nardoni. Talvez isso ajude entender alguns pontos. bom trabalho!

    ResponderExcluir
  3. Oi, meninos!

    Gostei muito da ideia de vocês, uma vez que essa história favoreceu o surgimento de diversos desdobramentos que quando relacionados à mídia, me assustou muito. Estou ansiosa para acompanhar as postagens de vocês!

    Abraços

    ResponderExcluir
  4. Oi, gente!

    Então, nem preciso dizer o quanto eu fiquei apaixonada com esse tema, né? Acredito que a questão da ética jornalística em casos de crimes midiáticos ainda é pouco discutida no país e isso acaba, muitas vezes, causando impactos irreversíveis na vida dos envolvidos. O que me faz ter maior interesse nesse caso e no projeto de vocês é, justamente, a peculiaridade dos holofotes sobre alguém que, como o próprio título já diz, não fala mais nada. Recomendo que vocês leiam a página da Ilana Casoy. Ela não é jornalista, mas é especialista em Criminologia e escreve artigos muito bons (Além dos livros de serial killer, e dos casos Nardoni e Richthofen) que também norteiam essa questão da cobertura da mídia - http://id.discoverybrasil.uol.com.br/ilana-casoy-crime-em-familia-de-policiais/ e https://www.facebook.com/ilanacasoy.
    Sei que vocês já têm dois jornais focados, mas essa é uma outra análise boa também: http://causasperdidas.literatortura.com/2013/08/07/o-menino-que-nao-matou-os-pais-2/


    ResponderExcluir
  5. Meninos, achei muito legal o tema que vocês escolheram e ainda mais a forma com que escolheram tratá-lo. Acho que há muito que se pensar sobre esse caso, tanto da cobertura quanto do andamento da investigação e de como o público reage a tudo isso. O recorte que vocês propuseram é muito interessante. Acho que as informações divulgadas nesse período foram críticas para a formação de opinião do público e, trabalhando cronologicamente, vai ser possível perceber como a história evoluiu. Uma sugestão: explorem as inconsistências? Acho super interessante, por exemplo, aquele detalhe de não ter pólvora nas mãos do menino e ainda assim afirmarem que ele se matou. Esse tipo de coisa, também não acompanhei a cobertura muito de perto, mas estou ansiosa pra acompanhar o trabalho de vocês!

    ResponderExcluir
  6. Nossa, gente, adorei o tema de vocês. O recorte que vocês escolheram é ainda mais interessante. Usar esse tema, sob o aspecto da ética em detrimento da maior, melhor ou mais rápida informação é muito interessante, já que vemos essa atitude do veículos se repetindo variadas vezes frente a crimes de grande comoção social, como é o caso deste.

    ResponderExcluir