terça-feira, 22 de outubro de 2013

A representação das travestis em jornais mineiros - Relatório II

Grupo: Eduarda Rodrigues, José Henrique Pires, Isabela Meireles, Natália Alves e Thaiane Bueno


No dia 11 de outubro todo o grupo se encontrou com Rafaela Vasconcelos, do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para uma conversa sobre o trabalho desenvolvido por eles. Foi um momento muito produtivo porque pudemos aprender como a questão trans, seja trans homem ou trans mulher, ainda é repleta de receios e preconceitos aqui em Belo Horizonte. O Núcleo está realizando agora, através de um questionário aplicado à população trans de BH, um levantamento sobre as condições de vida para tentar traçar um perfil.
Foi no tema do questionário que acabamos discutindo como a mídia mineira lida com as travestis em seu noticiário. Rafaela relatou que o grande interesse dos veículos de comunicação é por dados e números, algo que a pesquisa do Nuh deve produzir. O que acontece, muitas vezes, é que os jornalistas acabam usando tais dados sem nenhum cuidado de análise e interpretação, reforçando velhos padrões e estereótipos.
No trecho abaixo ela fala mais sobre o trabalho do Nuh, o posicionamento da mídia e também sobre o Manual de Redação LGBT lançado para os jornalistas, tendo em vista evitar certos erros de tratamento para com as travestis que se mantém.

O encontro abriu nossa olhar para a importância de se dar voz para as travestis e também de se dar um retorno quando elas estão envolvidas em qualquer tipo de estudo.

VOZES

Período
Abril-Maio-Junho 2013
Abril-Maio-Junho 2013
Veículo
O Tempo
Hoje em Dia
Temática da matéria
Direitos Humanos (2), Crimes (5), Celebridades (3)
Direitos Humanos (5), Crimes (1), Celebridades (1)
Vozes (Fontes da matérias e Autores das frases reproduzidas)
Curador (1), Travesti (3), Policial (4), Taxista (1), Celebridade (2), Amigo da travesti (1), Assessoria (1), ntegrante do movimento LGBT (3)
Integrante do movimento LGBT (2), Político (4), Polícia (3), Acusado (1), Advogado (1)

Dentre a maioria das reportagens coletada poucas são aquelas que optaram ter como fonte uma travesti. Na maior parte dos casos, observa-se a participação de membros de instituições ou associações ligadas ao movimento. E um ponto interessante a ser destacado é a presença contínua de fontes governamentais. São ministros, senadores ou outros cargos políticos sempre estão presentes nas matérias.


O Manual de Comunicação LGBT
Lançado em janeiro de 2010 por iniciativa da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), o Manual de Comunicação LGBT é um material feito de forma colaborativa por jornalistas, militantes e ativistas da causa LGBT. O objetivo do Manual é servir de orientação para estudantes, professores e profissionais de comunicação  e combater o uso de termos ou estruturas de linguagem homofóbicas e desrespeitosas aos LGBTs, contribuindo para a construção de uma cobertura que respeite os direitos humanos.
O manual esclarece questões como a diferença entre gênero, sexo biológico e sexualidade; porque se deve usar o termo homossexualidade ao invés de homossexualismo  além de indicar os termos corretos para identificar diversas possibilidades de identidade de gênero.
Um dos erros recorrentes nas matérias analisadas na pesquisa foi o uso incorreto de artigos quando se faz referencia a travestis. O manual esclarece: “Utiliza-se o artigo definido feminino “A” para falar da Travesti (aquela que possui seios, corpo, vestimentas, cabelos e formas femininas). É incorreto usar o artigo masculino, por exemplo, “O” travesti Maria, pois está se referindo a uma pessoa do gênero feminino”.  
É preciso também respeitar a identidade de gênero dos indivíduos. Voltando ao exemplo, se a travesti Maria é registrada com João, é preciso que a matéria respeite a forma como a travesti se identifica e publicar Maria. O material alerta ainda que a orientação sexual de um entrevistado só pode ser divulgada com o seu consentimento e se for de fato relevante para a pauta.
Algumas orientações para os jornalistas de como cada religião encara a homossexualidade, datas importantes da luta LGBT, o significado dos símbolos como as cores do arco-íris e toda a legislação vigente sobre o tema também está incluída no manual, que encerra com uma bibliografia de apoio para os profissionais.

Links das notícias analisadas

Hoje em Dia

ABRIL:
Vozes: ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário.
Integrante da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais(ABGLT), Keila Simpson

MAIO
Vozes: Polícia Militar (PM)
Cinco travestis “ relato das vítimas” (discurso indireto)
Graciano - o acusado
Vozes:  Secretário estadual Fernando Grella Vieira
Comando-Geral da PM
Associação da Parada do Orgulho GLBT (Apoglbt)
Vozes:  oAdvogado Dimitri Sales, do Instituto Latino-Americano de Direitos Humanos
Coronel Reynaldo Simões Rossi, do Comando de Policiamento do Centro
Um dos oficiais
Vozes:  Governador Geraldo Alckmin (PSDB)

JUNHO:
Vozes: Blogueira Fabíola Reipert

Vozes: Ministra da SDH, Maria do Rosário
Vice-presidenta do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT, Janaína Nogueira
Presidente do Conselho Nacional LGBT, Gustavo Bernardes

O Tempo

ABRIL
Vozes:  Henrique Moreira de Castro, curador da exposição

MAIO
Vozes: Travesti que morava com a vítima
Outras duas travestis não identificadas
Major e subcomandante do 33º Batalhão da Polícia Militar, Emerson Gomes
Vozes: Taxista que acionou o Samu para socorrer a vítima
Polícia Militar
Vozes: relato genérico das travestis vítimas (que são identificadas pelo nome de batismo)
Vozes: Cabo Vaneza Cristina Pereira
Polícia Militar
Uma das travestis vítimas

JUNHO:
Vozes: Letícia Spiller, atriz
Vozes: Polícia Militar
Amigo da vítima não identificado
Vozes: Fabíola Reipert, jornalista
Vozes: Assessoria do ator Rômulo Arantes Neto
Vozes: Presidente do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos), Anyky Lima
Coordenadora de Políticas de Diversidade Sexual de Minas, Walkíria La Roche
Coordenador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marco Aurélio Máximo

8 comentários:

  1. Oi gente,

    Achei demais o post de vocês, gostei da disponibilização do áudio com a entrevista ao invés de transcrevê-la. O quadro também ficou muito bom.

    Vocês sabem onde posso encontrar o Manual de Comunicação LGBT?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Olá Pedro,

    você pode ter acesso ao Manual através deste link:
    http://www.abglt.org.br/docs/ManualdeComunicacaoLGBT.pdf

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  4. Estou adorando acompanhar o trabalho de vocês. Por mais que procuremos sempre ter o cuidado com o respeito, muitas vezes não sabemos exatamente como fazer, como acontece no tratamento das travestis mesmo. O manual é uma iniciativa muito boa e necessaria, obrigada por disponibiza-lo tambem.

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  5. Acho ótimo que tenha um manual para orientar o uso de linguagem quando envolve questões LGBT. O que percebo é uma dificuldade grande da imprensa de lidar com diferentes gêneros, principalmente quando se trata das travestis. É recorrente tratá-las como "o" e com o nome masculino, muito por desconhecimento dessas possibilidades. O Manual de Comunicação LGBT é ótimo nesse sentido e precisa ser mais divulgado.

    Quanto à visibilidade, ainda há muito preconceito e acho também, certo receio por parte das mídias de colocarem as travestis como protagonistas, diferente do que acontece com os gays, por exemplo.

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  6. Por mais que o tema de vocês seja bem polêmico, ainda é um tema muito pouco explorado e acompanhar o projeto está ensinando bastante. Não sabia do Manual de Comunicação LGBT. A entrevista complementou bem a postagem, mas tive um pouco de dificuldade de entender algumas falas por causa dos ruídos.

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  7. Olá, gente! Gostei muito da publicação de vocês e o modo como fizeram a análise! Eu não conhecia o Manual de Comunicação LGBT, porém achei a ideia muito interessante.

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  8. Parabéns pelo post! Gostei bastante de saber da existência desse manual, haja vista que não há melhor forma lidar com o outro quando de fato o fazemos da maneira "correta"! Sem dúvida, o respeito é o mais o importante acima de tudo, e saber conduzir uma entrevista ou reportagem resguardando ao entrevistado a forma de linguagem com a qual ele de fato se sente representado é o que importa.

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