terça-feira, 22 de outubro de 2013

Profissão Locutor – Uma cachaça e um locutor, sem gelo, por favor #2

por Amanda Almeida, Cristiana Duarte, Marlon Henrique e Victor Lambertucci

 Venham todos ouvir e imaginar um pouco de tudo e de tudo um pouco que há no Bazar Maravilha, que é uma emoção para os ouvidos e para o seu dia! Dê um pulo nesse Bazar e aproveite, porque nele, tudo é de Graça!

    A família queria que ele fosse médico, mas ele escolheu o Jornalismo. Ele queria produzir para jornal impresso e acabou dando passos na tevê e se tornando uma das referências do rádio mineiro. Segundo Tutti Maravilha, ele jamais perseguiu os alvos que alcançou; tudo aconteceu de maneira inesperada. O rádio “caiu de paraquedas” em sua vida.

    Após “tomar um cano” de um artista que levou todo o dinheiro de uma produção, ele desistiu do ramo de produções culturais, no qual era um dos fortes nomes em Belo Horizonte na década de 70. Em 1979, recebeu a visita ilustre do jogador Reinaldo (na época, do Atlético-MG), em sua casa. O atleta disse animado que havia lhe arrumado um emprego na nova rádio que surgia em todo país, a Rádio Capital. Reinaldo tinha sido convidado para ser comentarista no Mineirão, enquanto se recuperava de uma cirurgia no joelho. E e sua condição para aceitar o serviço era que contratassem também Tutti, e assim foi.

Bazar Maravilha


    O Bazar Maravilha, programa que apresenta há 27 anos na rádio Inconfidência (FM 100,9) nasceu na televisão à convite da TV Alterosa. Pelo fato de o programa ter uma característica diversa, o amigo Fernando Brant sugeriu que Tutti desse o nome de Bazar (algo mineiro e que possui todo tipo de coisa) e incluísse Maravilha, o sobrenome artístico de Tutti. O programa era semanal e durou quatro meses. Uma das dificuldades para a atração era irregularidade dos horários de exibição, 22h, 23h, 01h, o que dificultou cativar a audiência. Nesse período como apresentador, ele é convidado para trabalhar na Inconfidência, e leva consigo o nome do programa.

    Tutti Maravilha (ou Aílton José Machado) nasceu na capital mineira, em 1950. Tutti é seu apelido de infância. O Maravilha veio nos anos 70. Como produtor de shows em BH, semanalmente levava matérias dos artistas que produziria para o jornalista Edmar Pereira, na época, editor de Cultura do jornal Diário de Minas. Uma de suas visitas coincidiu com a semana na qual Maria Alcina defendia a música “Fio Maravilha” em um festival e, inspirado por esse fato, Edmar dá título à matéria de “Tutti Maravilha, traz mais um pra gente ver”, em analogia à parte da música que diz: “Fio Maravilha, faz mais um pra gente ver”. A matéria bombou e o apelido pegou!

    Dentre suas produções culturais, há nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa, Elis Regina, Vinícius de Morais e vários outros expoentes da música Brasileira. Ainda, criou, produziu e dirigiu o primeiro disco acústico brasileiro – Rita Lee Bossa’n Roll – que nasceu no projeto “Semana Elis”.

Para chegar até aqui

    Na extinta Rádio Capital, Tutti começou fazendo pequenas participações, nas quais encarnava o personagem “Lorde Garfo”, que sugeria dicas de bons restaurantes belo-horizontinos aos ouvintes. Após três meses de trabalho, foi convidado para dividir o microfone com Oliveira Rangel, no programa “Gente da Capital”, no horário de 14h às 17h.

    Maravilha garantia que não saberia o que fazer em três horas de programa ao vivo, mas o diretor artístico o aconselhou a falar “qualquer bobagem” quando Rangel se dirigisse a ele. Com essa receita os dois estouraram a audiência das tardes da rádio. Depois de nove meses de aprendizado com Oliveira Rangel, Tutti passou a conduzir o programa sozinho, que durou por mais três anos e meio.

    Apesar de afirmar ainda hoje que não é um locutor e que não possui voz de locutor, ele acredita que seu sucesso nessa carreira se deu por trabalhar com música brasileira, campo em quel possui bastante conhecimento e experiência. Considerado brincalhão e bom de papo, essas características lhe garantiram ter um jogo de cintura na área do rádio. Sua habilidade em falar ao vivo é facilitada pela experiência que possui em apresentar shows.

Na frequência do rádio


    Graças ao avanço das tecnologias e principalmente pela existência da internet, Tutti considera fazer rádio nos dias de hoje uma tarefa muito mais fácil. Para ele o rádio – e também outras mídias - atualmente está pouco criativo. Tutti acredita que isso ocorre porque as fontes de pesquisa são muito acessíveis, e assim muitos relaxam e ficam apenas tocando clássicos da música brasileira, lendo releases sem qualquer interpretação ou intervenção, fazendo entrevistas com perguntas como “Qual foi seu primeiro disco?”, quando poderiam ir muito além. Ele defende que quando o serviço é mais difícil, o profissional tem de se esforçar mais, e assim acaba sendo mais criativo.

    O radialista diz que não poupa esforços para se informar e mantém uma pesquisa constante sobre o rádio, que é sua grande paixão. E como Elias já havia relatado no post passado, a conversa com Tutti não foi diferente sobre a questão de que viver apenas do rádio: não dá! Além de locutor, ele trabalha como mestre de cerimônias, apresenta shows e faz gravações; um multiprofissional. Mesmo sem saber estimar qual valor poderia ser o mínimo, ele garante que o salário dos profissionais do rádio é de longe bem menor que dos profissionais da tevê ou de impressos. Maravilha brinca dizendo que “o rádio é como uma cachaça e, como cachaça é algo barato, as pessoas continuam tomando daquela cachaça!”.

    O radialista, que nos recebeu com muito humor e gentileza, considera-se realizado nos caminhos que trilhou, e em sua carreira no rádio, que prossegue. Tutti afirma que “é claro que tem dias que a gente acorda e diz: “Ah! Que vontade de mudar de SEXO!!!”, mas que na realidade tudo foi e está como deveria ser mesmo e acredita que o que lhe ocorre faz parte de sua missão por aqui.

Faixa bônus

    Como muitos outros locutores e profissionais de sucesso no rádio, Ernani Andrade, técnico da central de rádio da Inconfidência, não é formado em Jornalismo. Concorda com Tutti com relação à profissão ser uma cachaça e por isso também mantém vários empregos. Além de seu trabalho no rádio, é locutor, DJ e faz vídeo fotos para festas.
Ernani diz que com o fato de várias rádios serem feitas em lógicas de satélite e em rede hoje em dia, não é mais necessário ter uma grande equipe para manter uma emissora.

    Assim, dois locutores dariam conta de revezarem em oito horas de programação, 4 horas para cada um, característica possível de ser executada nas redes FM. No caso das AM, é necessário manter uma grande equipe pelo fato de ser necessário ter o tempo todo profissionais passando informação.



Infográfico: Média Salarial Locutor no Brasil
(Clique para ampliar)

Ouça um trecho da entrevista!



P.S.: Tivemos dificuldade em levantar os dados para fazer a comparação entre o relato dos personagens deste projeto e a realidade da profissão do locutor. Vamos continuar buscando e compartilharemos no último post, concluindo com a nossa crítica sobre a carreira de locução. Na última postagem, traremos ainda um vídeo produzido com a apuração e entrevistas feitas durante o percurso deste trabalho, com conteúdo inédito.

No próximo post: você confere o vídeo produzido com a pesquisa e entrevistas realizadas para o projeto. Os locutores protagonistas deste trabalho contam mais sobre a história de suas carreiras e desafios da profissão.

7 comentários:

  1. Achei esse post muito bom, primeiro porque explica a construção da identidade do programa do Tutti, explica sua trajetória e algumas opiniões. Acredito que isso é importante, em especial para aqueles que buscam carreira de radialista ou até mesmo de jornalista. Me interessei em ler o post por ser o Tutti Maravilha, gosto dos seus programas mas nao conhecia nada da sua vida nem carreira. Além disso, foi interessante conhecer os salários médios desses profissionais.

    ResponderExcluir
  2. Adorei a entrevista, principalmente por saber que o Tutti não defende a mesmisse no rádio. É ao mesmo tempo desafiador e um alívio saber que alguém com a sua experiência está preocupado em se manter em um patamar criativo e estabelecer um diferencial em relação ao que já existe no mercado.
    Ainda assim senti falta daquilo que tínhamos conversado em sala, sobre as dificuldades da profissão. Ao ler a entrevista parece que tudo no rádio é lindo, até mesmo a necessidade em se tornar um multiprofissional para sobreviver. Mas o infográfico com o salário de radialistas é assustador.

    ResponderExcluir
  3. Gostei muito do post, conhecia o programa do Tutti mas nunca procurei a respeito de sua trajetória, é um grande personagem do rádio mineiro. A parte triste do post foi ver os salários e a desvalorização destes profissionais tão talentosos.

    ResponderExcluir
  4. Olá meninos,

    primeiramente, gostei muito do post de vocês. É legal conhecer um pouco mais sobre a história de pessoas como o Tutti, com toda a sua trajetória e desafios ao longo da carreira. Além disso, o infográfico sobre os salários de locutores é bem esclarecedor também, apesar de ser desapontador de ver a desvalorização da área. Acredito que vocês possam continuar seguindo essa linha, procurando trazer um pouco mais da realidade desta profissão. E, assim como já foi dito em outros comentários, seria interessante vocês investirem um pouco mais na questão sobre as dificuldades. Uma ideia que talvez seja possível seria uma espécie de balanço quantificando os profissionais que conseguem trabalhar efetivamente na área atualmente contrapondo com aqueles que se formam, não sei se esses dados são disponíveis mas é algo interessante para saber.

    ResponderExcluir
  5. Acho ótimo conhecer melhor um personagem tão icônico para o rádio como o Tutti, e a parte de sua história ficou bem escrita e estruturada. Mas também achei assustador o salário médio dos radialistas e achei meio solto jogar essa informação no post sem comentar muito isso, falta ressaltar as dificuldades da profissão.

    ResponderExcluir
  6. Muito bacana conhecer um pouco mais dessa profissão, e a trajetória do Tutti , fiquei impressionado com a remuneração média desse profissionais ,esperava que eles fossem um pouco mais valorizados.

    ResponderExcluir
  7. Que legal o trabalho de vocês, a começar pelo título. Gostei de saber mais sobre a figura do tutti e assim, acabar sabendo um pouco sobre o que é ser radialista.
    Acho essa questão do salário dos profissionais de rádio muito relevante e foram boas as informações que vocês trouxeram. O salário de um jornalista na TV já não é bom, na rádio nem se fala...

    ResponderExcluir