A escolha do filme para essa postagem veio da preferência das meninas da nossa própria sala. Abrimos um espaço no nosso grupo de discussão para que elas elegessem a comédia romântica que mais gostassem ou que marcou suas vidas e o filme escolhido foi "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain".
A história conta a vida de Amélie Poulin, desde seu nascimento até a vida adulta. O filme é narrado por uma voz masculina onisciente, que tem total consciência de tudo que se passa na história e também de acontecimentos simultâneos que vêm a completá-la. Amélie vive uma vida reclusa, resumindo seu contato social ao seu trabalho de garçonete num café. Mas, ao encontrar em sua casa uma caixinha escondida, uma espécie de caixinha de tesouro que teria sido deixada em seu apartamento por um menino que morou lá na década de 1950, ela se abre para novos contatos em busca de achar seu dono. Ela decide que, se conseguir trazer felicidade a ele, ela passará a se dedicar às pequenas bondades que podem ser feitas no dia-a-dia. A partir desses novos contatos, Amélie conhece Nino, rapaz com quem começa a ter uma espécie de envolvimento afetivo.
A história conta a vida de Amélie Poulin, desde seu nascimento até a vida adulta. O filme é narrado por uma voz masculina onisciente, que tem total consciência de tudo que se passa na história e também de acontecimentos simultâneos que vêm a completá-la. Amélie vive uma vida reclusa, resumindo seu contato social ao seu trabalho de garçonete num café. Mas, ao encontrar em sua casa uma caixinha escondida, uma espécie de caixinha de tesouro que teria sido deixada em seu apartamento por um menino que morou lá na década de 1950, ela se abre para novos contatos em busca de achar seu dono. Ela decide que, se conseguir trazer felicidade a ele, ela passará a se dedicar às pequenas bondades que podem ser feitas no dia-a-dia. A partir desses novos contatos, Amélie conhece Nino, rapaz com quem começa a ter uma espécie de envolvimento afetivo.
Apesar de bastante aclamado e adorado por muitas mulheres, o filme passa por pouco no teste de Bechde, pois, ainda que tenha várias personagens mulheres, os diálogos entre elas são, em sua maioria, sobre homens ou relacionamentos. Apesar de o filme dar muito destaque à interação amorosa, também são explorados neles outros aspectos que acrescentam ao enredo certa profundidade. O filme enfatiza grandemente os pequenos detalhes, mostrando o interesse de Amélie por eles e como eles integram a trama complexa que é a vida. O interesse particular por coisas e sensações simples também é parte integrante da personagem, levando-a a imaginar cenários e inventar joguinhos particulares. Podemos concluir que muito do comportamento da personagem é reflexo de sua infância reclusa e a ausência de contato social, como nos contou a psicóloga Silvana Alcântara.
A personalidade da personagem, por si só, já é um emaranhado de questões a se pensar. A infância solitária, a morte da mãe que causa ainda mais afastamento do pai e a ausência de contato social durante essa fase fazem com que a personagem se torne cada vez mais introspectiva e imaginativa. Essas características se refletem em sua vida adulta, quando, apesar de se relacionar com pessoas no trabalho, ela não se abre para nenhum contato mais profundo. Isso é acentuado quando o narrador afirma que ao achar a caixinha guardada no banheiro, toda a vida de Amélie mudaria. Realmente, foi bem assim, pois a partir da busca pelo dono da caixinha a personagem começa a interagir com mais pessoas e então consegue começar a "sair de seu casulo".
Apesar de ser dada grande importância ao romance que começa a se desenvolver entre Amélie e Nino, o filme é realista em mostrar que todas as dificuldades da personagem de se relacionar com as pessoas não somem magicamente ao encontrar alguém. Ela continua desenvolvendo seus "estratagemas", como ela mesmo define, até que consiga superar o medo e se abrir para a possibilidade de um relacionamento.
Não achamos que o filme segue a concepção hollywoodiana de comédia romântica, mas uma das integrantes do grupo, a Nathália, teve uma opinião diferente. Ela acredita que o filme gira em torno, basicamente, de relacionamentos afetivos: a personagem Gina e seus encontros e amantes, a personagem histérica Georgette e sua súbita cura de males e péssimo humor após encontrar um amante, Madeleine Wallace que tem sua vida girando em torno de um antigo e falecido amor, e a própria Amélie que está em busca de romance. Para ela, a história reforça a ideia de “amor romântico” muito conhecida por todos nós: aquele amor que é em si um fim, a felicidade, a completude da vida feminina. Em contrapartida ao que pensa o grupo, ela pensa que, assim como o último filme analisado (10 coisas que odeio sobre você), em “O Fabuloso destino de Amélie Poulain”, os conflitos internos da personagem principal (seus problemas com os pais, em criar vínculos e relações sociais e sua tendência em criar um mundo paralelo para escapar da realidade) são anulados diante da questão da existência de um amor que viesse resolver essas questões. Ao encontrar o amante, os demais problemas perdem seu grau de importância. Por fim, ela concluiu que o filme não passa no teste de Bechdel (não possui nenhum diálogo válido entre duas personagens femininas sobre um assunto diferente de homens), o que, pra ela, mostra a força do tema relacionamento afetivo na trama e na vida dos personagens.
Outra leitura a ser destacada é a figura de Amélie como princesa. As alusões ao acidente que causou a morte da princesa Diana certamente não estão no filme por acaso. No entanto, a ressalva sobre esse contexto é que a protagonista expõe suas mazelas, fraquezas e outras questões ao espectador, o que não ocorre na vida de uma princesa convencional. Amélie torna-se então, uma princesa possível, gera aproximação com o público que a assiste, em vez de reforçar uma realidade distante. Ao contrário das princesas hollywoodianas, Amélie é humanizada, sem perder o encantamento que há numa fábula.
Essa interpretação talvez explique a preferência das colegas de sala, quando perguntadas sobre o filme de comédia romântica mais marcante em suas vidas. Mais uma vez, faltam critérios para enquadrar O fabuloso destino de Amélie Poulain, visto que passar num teste “por pouco” pode ser entendido por muitos como “não passou”. As quebras de certos padrões sociais na vida de Amélie misturadas a alguns padrões fielmente seguidos, resulta no tradicional com pitadas de reinvenção ou desmascaremento de idéias impostas, por parte do diretor. Vejamos se o próximo título corrobora ou enfraquece essa reflexão.
Trailer:
O meu comentário é muito pessoal, na verdade. Como uma das meninas que listaram o filme como um dos preferidos, não me senti muito confortável com a análise, provavelmente porque a pesquisa oferece pontos de vista completamente diferentes dos meus sobre um assunto que estou emocionalmente envolvida. Sempre vi o cinema como arte. E arte é feita para sentir, não para se explicar e procurar significados. Até porquê a significação pode ser diferente para cada espectador.
ResponderExcluirMas, ao mesmo tempo, absolutamente tudo que está ali é fruto de uma escolha feita por alguém. E essas escolhas indicam uma certa maneira de ver o mundo e transmitir uma mensagem, seja ela do diretor, do responsável pela fotografia ou pelo roteirista, por exemplo. O teste de Bechdel é uma ferramenta simples que aborda questões muito importantes sobre o feminismo. Mas é nesse caso que vejo o quanto minha cabeça ainda é um pouco machista, sabe? Porque passar por pouco significa estar longe do ideal. E meu deus, este é um dos meus romances preferidos. Deveria, no mínimo estar de acordo com minhas visões de mundo.
Mas enfim, ainda não sei até onde vai a minha reflexão, mas essa é uma das minhas briguinhas pessoais com o cinema, cinéfilos, críticos e analistas em geral.
Realmente as vezes me questiono porque as mulheres gostam tanto deste filme. Acredito que seja pelo fato de Amelie conseguir unir todos os pensamentos femininos e se tornar essa espécie de "princesa" da vida real. Percebo também que o filme parece fugir completamente das produções cinematográficas comuns de hollywood e isso também é positivo pois quebra com a normalidade padronizada do cinema norte americano. Vocês conseguiram esclarecer minhas dúvidas em relação ao filme!
ResponderExcluirOlá, meninas! Fui uma das meninas que escolheu o filme e gostei dos pontos que vocês trouxeram. Ouvindo a entrevista com a psicologa, entendi um pouco do comportamento da Amellie, que se formos pensar bem, é realmente um pouco doentio. Mas, esse romance é o meu preferido, pois vejo nela uma pureza muito grande e não consigo imaginar seus "estratagemas" como malícia.
ResponderExcluirEu sempre achei o filme a coisa mais linda de todo o universo. E o post de vocês me fez refletir. Eu acho que esse filme ta longe do modelo de hollywood, porque por mais que os diálogoa se voltwm para o mesmo tema, é construído de maneira diferente. Mas acho muito interessante os apontamentos da Natália. Vou ver o filmw novamente para refletir sobre essas questões.
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