Por Amanda Almeida, Cristiane
Duarte, Marlon Henrique e Victor Lambertucci
Em seus dias de
universitário recém-ingresso ao curso de Comunicação Social, Elias Santos, hoje
com 42 anos, nunca havia pensado em ser locutor de rádio. Gostava de história,
que segundo ele é uma das bases do Jornalismo. Interessava-se também por
locução, um ofício
de profissionais que tem o desafio de conquistar a simpatia da grande maioria
da audiência por meio de um único artifício: a voz. Mas
ele não se imaginava exercendo essa atividade de forma profissional.
Desde jovem, sempre se
interessou pelo desenho, ramo bem distinto da função de locutor. Esse hobbie o
levou a escolher o curso de Publicidade e Propaganda da UFMG. Por dois anos,
seguiu o caminho que parecia guiá-lo para a prática publicitária, mas algo (ou
alguém) insistia que a direção poderia ser outra. Nas aulas, uma certa
professora repetia cada vez que Elias se pronunciava em sala: “Você tem voz de
locutor, deveria fazer rádio!”. No auge da adolescência, Elias conta que a
insistência da professora chegava a irritá-lo e pensava “Quem é ela para dizer
o que vou fazer?”. Gostasse ou não naquela época, os elogios da professora
denunciavam o futuro de sua carreira.
No fim das contas, o aluno de
publicidade fez reopção pelo curso de Rádio e TV, habilitação hoje extinta do
curso de Comunicação Social da UFMG. Enquanto para alguns o trabalho de locutor possa
parecer simples, na verdade, a performance profissional de um locutor não é tão
fácil assim. Transmitir uma informação requer muito mais do que uma boa voz ou carisma.
Um locutor se distingue por ter uma voz envolvente, um ritmo que mobiliza emocionalmente
a audiência.
Sob a orientação do Sonoplasta
Gilberto Corrêa, que tem larga experiência no rádio e trabalha na Rádio da
Universidade (Rádio UFMG Edcativa), passou a aprimorar sua técnica vocal. Nesse
período, foi indicado por diversas pessoas para trabalhar em emissoras de rádio
como Inconfidência e Itatiaia, porém não obteve retorno de propostas. Mais tarde,
em uma visita técnica, conseguiu conversar diretamente com o presidente da Rádio
Inconfidência. Conversa vai, conversa
vem, Elias recebeu uma proposta de trabalho. O problema: o programa iria ao ar
de 01 as 04 da manhã. Mas essa era a chance imperdível de um começo, assim,
Elias passou a fazer a locução nas ondas da Rádio Inconfidência pela madrugada.
Com vários anos de
experiência profissional, hoje Elias trabalha na Rádio UFMG Educativa e na TV
Horizonte e leciona em uma universidade particular. Avaliando o cenário atual,
ele chega à conclusão de que, nos últimos anos, houve uma desvalorização da
cultura oral diante da escrita. Para ele, esse fenômeno tem início na escola e
chega a atingir as rádios e o próprio locutor, já que os profissionais do rádio
foram desvalorizados inclusive sob o âmbito econômico, visto que o próprio
salário é registrado como inferior ao dos demais profissionais de comunicação,
como os de TV. Ele relata ainda que há muitos locutores desempregados.
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Estúdio Rádio UFMG Educativa |
Diante de tais fatos, Elias afirma que mesmo frente a novas tendências na forma de locução do rádio, de uma voz mais impostada para outra conversada, o locutor ainda tem seu espaço, mesmo que reduzido. Existem diversas técnicas para desenvolver as habilidades necessárias ao exercício da profissão, que surgiram com o rádio e tiveram que ser aprimoradas com a televisão.
Elias destaca ainda que o desenvolvimento dos dispositivos trouxe influências significativas para locução. Um exemplo é a comparação entre os períodos áureos do rádio, quando a voz tinha que ser emitida de forma mais grave para ser captada pelo microfone, e depois a Bossa Nova, quando equipamentos de gravação se encontravam mais desenvolvidos, o que permitia falar mais baixo nas gravações.
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Programa "Conexões" Ao Vivo |
Elias está no grupo dos que defende a
interpretação que vai além da técnica. Para ele, voz e conteúdo precisam estar
alinhados, o locutor precisa saber como utilizar a voz. Nesse sentido, mais do
que ter boa voz, é preciso saber, cada vez mais, se comunicar.
O que mais gostei na postagem de vocês foi o final. Estava aguardando desde o início da leitura o comentário do entrevistado sobre o fim da necessidade de uma voz potente e bonita para o rádio. Com a evolução da técnica da comunicação, prioriza-se muito mais a comunicabilidade e a boa interação do que somente uma bela voz. Elias me pareceu um profissional completo!
ResponderExcluirCurti muito essa postagem de vocês. E concordo muito com o que o Elias e a Melissa disseram, hoje é muito mais necessário saber se comunicar e saber interagir do que simplesmente ter uma boa voz para ser locutor.
ResponderExcluirUm locutor que sabe se colocar e sabe interagir com o público com personalidade ganha muito destaque.
ResponderExcluirOi pessoal. Gostei muito do post e de ler este perfil que vocês construíram do Elias. Foi uma leitura gostosa e bem atrativa.
ResponderExcluirÉ deprimente observar a desvalorização que os profissionais de comunicação, sobretudo os radialistas, acabam sofrendo.
ResponderExcluirContudo analisando o post e os comentários já feitos concordo que não é só uma boa voz que faz uma locução, porém acredito que ela seja essencial para o sucesso de um locutor. Sem uma boa voz não existe maneiras de uma locução eficiente ser realizada.
No mais, achei a postagem pertinente e o assunto muito interessante.
Muito interessante o post , a profissão de locutor vem infelizmente sendo desvalorizada. Apesar disso para ser um bom locutor é preciso não apenas uma boa voz mas a capacidade de transmitir ao ouvinte as emoções que faltam pelo recurso da imagem.
ResponderExcluirAlém do Elias ter uma voz excelente de rádio, ele é também um ótimo anfitrão: no Festival Natura, realizado recentemente em BH, ele exerceu o papel de apresentador e, na minha visão, conquistou o público não só com a voz, mas com a simpatia e conhecimento do evento que mostrava nos intervalos dos shows.
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