Votação
em uma sessão da Assembleia Popular Horizontal em Julho de 2013
A Assembleia Popular Horizontal – APH- é um fórum,
criado em Belo Horizonte, mediante as manifestações que tomaram a cidade e todo o
país em
Junho deste ano. Ela surgiu da necessidade dos manifestantes em construir um
espaço de
discussão espontâneo,
aberto e horizontal que englobasse todas as vozes das manifestações para
juntos, e coordenadamente, obter resultados.
Com o passar do tempo, muitos
foram os aprendizados obtidos pelos frequentadores da APH. O primeiro, que
deveria ter número limite para falas e tempo para terminar cada pauta. Foi também após muitas
assembleias que se decidiu criar uma comissão de metodologia, que pensaria
antes a pauta e que coordenaria as falas. Ou seja, se antes a assembleia durava
horas discutindo qual seria a pauta de discussão, sem número
limite de falas e tempo para os encaminhamentos, hoje a assembleia tem sua
pauta definida antes e o tempo otimizado, o que propicia melhores
encaminhamentos. Após quase dois meses de sua criação, a Assembleia Popular também sofre
um processo de esvaziamento. Enquanto na primeira havia mais de mil pessoas, na
última
havia vinte.
Na imagem ao lado, um retrato de uma votação em uma sessão da APH durante a ocupação da câmara de vereadores. A
estudante de história da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, Firmínia Rodrigues,
que participa da APH desde sua criação e mesmo após o
esvaziamento desse fórum continua participando das sessões, conta sua experiência com
a Assembleia Popular:
“A Assembleia Popular
Horizontal hoje cumpre um papel de aglutinar os ativistas e as lutas em Belo
Horizonte. Ela surge após as manifestações de junho como forma de organizar as pessoas que
foram ás ruas para
reivindicar seus direitos. No início as assembleias eram bem cheias, mas não podemos negar que
hoje há um esvaziamento,
quando comparado ao início. Mas de nenhuma forma a qualidade das
assembleias reduziu. A APH organizou e articulou a ocupação da Câmara Municipal em
julho, a ocupação da Prefeitura de Belo Horizonte e outros atos que
ocorreram, como as paralisações de 11 de julho e 30 de agosto. Com certeza, a
efetivação desses atos teve
maior qualidade pela unidade entre diversos setores e grupos políticos presentes na APH
e por simbolizar uma nova forma de realizar ações políticas. Hoje a APH é uma referência para os ativistas e Movimentos Sociais de Belo
Horizonte. Sem dúvidas é um espaço em que há um diálogo entre variados grupos políticos e ativistas
independentes na construção de pautas comuns. Essa unidade tem uma importância inegável para a cidade e
tende a ser longa e duradoura”.
Comunicação tem limite!
Um mecanismo de diálogo
criado logo na primeira sessão da Assembleia Popular e que já se
modificou bastante desde a sua criação, com troca de membros etc, é a
Comissão de
Comunicação. Sua
principal forma de mobilização popular é o
facebook. Na página Assembleia Popular Horizontal :: BH (https://www.facebook.com/AssembleiaPopularBH?fref=ts), as
sessões da
APH são
divulgadas, assim como as reuniões dos diversos Grupos de Trabalho – GTs- e
as atividades encaminhadas pelas assembleias e GTs.
Através da página no facebook, tentamos entrar em contato com a Comissão, e a resposta foi:
Através da página no facebook, tentamos entrar em contato com a Comissão, e a resposta foi:
“Evitamos entrevistas pessoais pra
reafirmar a nossa horizontalidade, pois entrevistas podem passar a ideia de que
há representantes ou líderes no movimento, o que não
há. Temos uma sala de imprensa na Wiki (http://aphbh.wikidot.com/sala-de-imprensa) onde respondemos perguntas de repórteres
e outros interessados. Publica lá a sua entrevista e respondemos, pode
ser?
Não sendo satisfatório, podemos discutir nas sessões da APH como proceder, mas a princípio esse é o método. E obrigada pelo interesse na Assembleia”.
Não sendo satisfatório, podemos discutir nas sessões da APH como proceder, mas a princípio esse é o método. E obrigada pelo interesse na Assembleia”.
Então, entramos na página
da Wiki que tem como título “Leve-me ao seu líder”. O título é parte de uma resistência
à
imprensa tradicional que fica explicita na descrição da página:
“A
imprensa tem insistido em falar com "representantes" e em criar
rostos e lideranças para a APH. A estratégia
padrão de identificar (ou inventar) lideranças, cooptá-las e difamá-las para dividir movimentos sociais é
a mesma na grande imprensa e nos órgãos de segurança
pública, e temos visto isto acontecer por todo o país
há décadas. A crítica a grande mídia corporativa não pode no entanto se confundir com uma crítica aos trabalhadores da mídia,
aos jornalistas, câmeras e fotógrafos
que, em alguns casos, estiveram conosco nas ruas, sofrendo a mesma violenta
repressão estatal que nós. São, afinal, trabalhadores, e como todos
nós recebem ordens de patrões com os quais nem sempre concordam
.A Sala de Imprensa da APH é nossa tentativa de lidar com isso de
uma forma que seja coerente com a transparência radical e a horizontalidade que
propomos”.
Sendo
assim, depositamos as perguntas na página e concomitante a isso, Izabella
foi a uma sessão da APH, conversou com um membro da Comissão
de Comunicação sobre o assunto e pediu que respondesse as nossas questões
depositadas na página, como combinado. Mas após duas semanas, não
recebemos respostas.
Não
cabe neste momento do projeto e do contexto político e social qual se encontra a
Assembleia Popular, tirarmos conclusões. Explicitamos aqui os fatos (por
isso tantas aspas), em uma primeira tentativa de entender: que fenômeno
é
esse? Que crise é esta entre os ativistas e o jornalismo “tradicional”?
Como lidar e aprender com esse processo? Não existem respostas prontas.
'izabella e pedro,
ResponderExcluira assembléia horizontal é um ótimo objeto de estudo para a discussão da organização dos movimentos sociais de esquerda em belo horizonte. vejo que os participantes das comissões têm uma crítica do próprio trabalho e parecem cautelosos em manter uma certa ordem dentro do movimento.
a assembléia não funciona completamente em sua horizontalidade. ela também não chega a ser de fato popular. e só porque elas permanecem na tentativa de ser o que pregam, não significa que elas não sejam válidas no contexto político. é interessante observar, como vocês apontaram, como o movimento se desenvolveu e buscou se corrigir em cada momento. como a firmina afirmou, eles são, de fato, um movimento de referência em belo horizonte.
fiquei com vontade de saber a opinião de vocês sobre essa resguarda da comissão de comunicação. vocês acham que não dar informação e não se posicionar publicamente (seja para mídia tradicional ou para um grupo de estudantes de comunicação) é uma falha?
att
lucas afonso sepulveda
Muito bom seu comentário Afonso, acho que devíamos ter nos posicionado na postagem sim.
ExcluirAcho muito interessante o tema. Dá pano para manda. Acho importante aprofundar na dinâmica da APH. Ela é um fórum de união, mas não se propõe a ser um espaço de onde saem todas as iniciativas. Há lutas que não partiram inicialmente da APH, mas que ela apoiou e se envolveu como, por exemplo, a ocupação da prefeitura, que foi organizada pelos movimentos de ocupação urbana MLB e Brigadas Populares. Para captar essa complexidade de fatores é importante ouvir diversas vozes. Outra experiência muito rica são os GTs como o de mobilidade urbana (os GTs são parte da APH) que está bombando com a campanha da tarifa zero.
ResponderExcluirObrigado pelo conselho Natália, para a próxima postagem vamos readequar nosso plano e ouvir mais vozes como você disse ; )
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