terça-feira, 17 de setembro de 2013

Relatório #1 Uma organização necessária: Assembleia Popular Horizontal de Belo Horizonte


Votação em uma sessão da Assembleia Popular Horizontal em Julho de 2013
 
 
A Assembleia Popular Horizontal APH- é um fórum, criado em Belo Horizonte, mediante as manifestações que tomaram a cidade e todo o país em Junho deste ano. Ela surgiu da necessidade dos manifestantes em construir um espaço de discussão espontâneo, aberto e horizontal que englobasse todas as vozes das manifestações para juntos, e coordenadamente, obter resultados.
Com o passar do tempo, muitos foram os aprendizados obtidos pelos frequentadores da APH. O primeiro, que deveria ter número limite para falas e tempo para terminar cada pauta. Foi também após muitas assembleias que se decidiu criar uma comissão de metodologia, que pensaria antes a pauta e que coordenaria as falas. Ou seja, se antes a assembleia durava horas discutindo qual seria a pauta de discussão, sem número limite de falas e tempo para os encaminhamentos, hoje a assembleia tem sua pauta definida antes e o tempo otimizado, o que propicia melhores encaminhamentos. Após quase dois meses de sua criação, a Assembleia Popular também sofre um processo de esvaziamento. Enquanto na primeira havia mais de mil pessoas, na última havia vinte.
Na imagem ao lado, um retrato de uma votação em uma sessão da APH durante a ocupação da câmara de vereadores. A estudante de história da UFMG Universidade Federal de Minas Gerais, Firmínia Rodrigues, que participa da APH desde sua criação e mesmo após o esvaziamento desse fórum continua participando das sessões, conta sua experiência com a Assembleia Popular:
A Assembleia Popular Horizontal hoje cumpre um papel de aglutinar os ativistas e as lutas em Belo Horizonte. Ela surge após as manifestações de junho como forma de organizar as pessoas que foram ás ruas para reivindicar seus direitos. No início as assembleias eram bem cheias, mas não podemos negar que hoje há um esvaziamento, quando comparado ao início. Mas de nenhuma forma a qualidade das assembleias reduziu. A APH organizou e articulou a ocupação da Câmara Municipal em julho, a ocupação da Prefeitura de Belo Horizonte e outros atos que ocorreram, como as paralisações de 11 de julho e 30 de agosto. Com certeza, a efetivação desses atos teve maior qualidade pela unidade entre diversos setores e grupos políticos presentes na APH e por simbolizar uma nova forma de realizar ações políticas. Hoje a APH é uma referência para os ativistas e Movimentos Sociais de Belo Horizonte. Sem dúvidas é um espaço em que há um diálogo entre variados grupos políticos e ativistas independentes na construção de pautas comuns. Essa unidade tem uma importância inegável para a cidade e tende a ser longa e duradoura.
Comunicação tem limite!
Um mecanismo de diálogo criado logo na primeira sessão da Assembleia Popular e que já se modificou bastante desde a sua criação, com troca de membros etc, é a Comissão de Comunicação. Sua principal forma de mobilização popular é o facebook. Na página Assembleia Popular Horizontal :: BH (https://www.facebook.com/AssembleiaPopularBH?fref=ts), as sessões da APH são divulgadas, assim como as reuniões dos diversos Grupos de Trabalho GTs- e as atividades encaminhadas pelas assembleias e GTs.

Através da página no facebook, tentamos entrar em contato com a Comissão, e a resposta foi: 
Evitamos entrevistas pessoais pra reafirmar a nossa horizontalidade, pois entrevistas podem passar a ideia de que há representantes ou líderes no movimento, o que não há. Temos uma sala de imprensa na Wiki (http://aphbh.wikidot.com/sala-de-imprensa) onde respondemos perguntas de repórteres e outros interessados. Publica lá a sua entrevista e respondemos, pode ser?
Não sendo satisfatório, podemos discutir nas sessões da APH como proceder, mas a princípio esse é o método. E obrigada pelo interesse na Assembleia.
 
Então, entramos na página da Wiki que tem como título Leve-me ao seu líder.  O título é parte de uma resistência à imprensa tradicional que fica explicita na descrição da página:

A imprensa tem insistido em falar com "representantes" e em criar rostos e lideranças para a APH. A estratégia padrão de identificar (ou inventar) lideranças, cooptá-las e difamá-las para dividir movimentos sociais é a mesma na grande imprensa e nos órgãos de segurança pública, e temos visto isto acontecer por todo o país há décadas. A crítica a grande mídia corporativa não pode no entanto se confundir com uma crítica aos trabalhadores da mídia, aos jornalistas, câmeras e fotógrafos que, em alguns casos, estiveram conosco nas ruas, sofrendo a mesma violenta repressão estatal que nós. São, afinal, trabalhadores, e como todos nós recebem ordens de patrões com os quais nem sempre concordam .A Sala de Imprensa da APH é nossa tentativa de lidar com isso de uma forma que seja coerente com a transparência radical e a horizontalidade que propomos.

Sendo assim, depositamos as perguntas na página e concomitante a isso, Izabella foi a uma sessão da APH, conversou com um membro da Comissão de Comunicação sobre o assunto e pediu que respondesse as nossas questões depositadas na página, como combinado. Mas após duas semanas, não recebemos respostas.

Não cabe neste momento do projeto e do contexto político e social qual se encontra a Assembleia Popular, tirarmos conclusões. Explicitamos aqui os fatos (por isso tantas aspas), em uma primeira tentativa de entender: que fenômeno é esse? Que crise é esta entre os ativistas e o jornalismo tradicional? Como lidar e aprender com esse processo? Não existem respostas prontas.

4 comentários:

  1. 'izabella e pedro,

    a assembléia horizontal é um ótimo objeto de estudo para a discussão da organização dos movimentos sociais de esquerda em belo horizonte. vejo que os participantes das comissões têm uma crítica do próprio trabalho e parecem cautelosos em manter uma certa ordem dentro do movimento.

    a assembléia não funciona completamente em sua horizontalidade. ela também não chega a ser de fato popular. e só porque elas permanecem na tentativa de ser o que pregam, não significa que elas não sejam válidas no contexto político. é interessante observar, como vocês apontaram, como o movimento se desenvolveu e buscou se corrigir em cada momento. como a firmina afirmou, eles são, de fato, um movimento de referência em belo horizonte.

    fiquei com vontade de saber a opinião de vocês sobre essa resguarda da comissão de comunicação. vocês acham que não dar informação e não se posicionar publicamente (seja para mídia tradicional ou para um grupo de estudantes de comunicação) é uma falha?

    att
    lucas afonso sepulveda

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    1. Muito bom seu comentário Afonso, acho que devíamos ter nos posicionado na postagem sim.

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  2. Acho muito interessante o tema. Dá pano para manda. Acho importante aprofundar na dinâmica da APH. Ela é um fórum de união, mas não se propõe a ser um espaço de onde saem todas as iniciativas. Há lutas que não partiram inicialmente da APH, mas que ela apoiou e se envolveu como, por exemplo, a ocupação da prefeitura, que foi organizada pelos movimentos de ocupação urbana MLB e Brigadas Populares. Para captar essa complexidade de fatores é importante ouvir diversas vozes. Outra experiência muito rica são os GTs como o de mobilidade urbana (os GTs são parte da APH) que está bombando com a campanha da tarifa zero.

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    1. Obrigado pelo conselho Natália, para a próxima postagem vamos readequar nosso plano e ouvir mais vozes como você disse ; )

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